2 de maio de 2008

discussão política

Cada vez menos tenho o hábito de discutir política. Não é por opção que me afasto do tema, mas antes porque sinto enorme resistência das pessoas com quem convivo em abordá-lo. Parece sempre incómodo, chato, uma repetição. Lembro-me quando a política era o tema de todas as discussões em família e a minha não era diferente. Havia sempre um tio, primo ou avô que se envolviam em violentas discussões e que tornavam cada Natal ou aniversário inesquecível. Claro que nem sempre pelos melhores motivos. Estou certo, porém, é que foi nesse ambiente que cresci e aprendi a compreender as diferentes pontos de vista e as questões que separavam a esquerda da direita. Há quem diga que essas diferenças esmoreceram e por isso a paixão também. Percebo o que querem dizer, mas não o compreendo. Digo mais: a apatia desta abordagem enerva-me e revela no mínimo uma enorme desatenção. Mostra que cada vez mais nos preocupamos apenas com a nossa realidade e procuramos manter-nos afastados de tudo o que seja minimamente incómodo ou nos faça sair do conforto do nosso egoísmo.
A nova moda é afirmar que os partidos são todos iguais. O que interessa são os movimentos dos cidadãos. Esses é que podem dinamizar o país. Percebo que por vezes é útil que eles apareçam, nem que seja em momentos como os das eleições intercalares em Lisboa. Agitaram os ânimos e puseram os partidos em sentido. Mas nada mais. Não têm futuro e não são a resposta necessária. A própria Helena Roseta o reconhece. Servem no imediato, nada dizem para o futuro. E quanto aos partidos da moda, cujo mais recente é o Bloco de Esquerda, o que fazem? Dizem umas coisas giras e mal podem colam-se ao poder, como exemplificou bem José Sá Fernandes no seu entendimento com António Costa. Oferecem verdadeira alternativa? Mais uma vez não e aposto que no poder já não lhes achariam tanta graça. São úteis na oposição, em alguns momentos. Só isso.
Claro que o texto que aqui exponho resulta de uma visão de uma classe média em extinção, da qual eu faço parte. Alguns como eu sentem-no todos os dias. Cresci num meio economicamente estável e todos os dias me debato por manter o nível de vida a que sempre estive habituado. Vejo os amigos (alguns) a prosperar, mas aqueles que hoje como ontem estão bem são os mesmos. Aqueles que têm a sorte de ter uma família que os protege nos momentos difíceis. Os que têm amigos que de uma forma ou de outra os conseguem projectar no mercado de trabalho. Em suma, aqueles que sempre soube que iriam estar onde estão actualmente. E eu gostava de dizer que é sempre com mérito, mas às vezes... Não interpretem o que acabei de dizer como uma crítica, provavelmente se as mesmas oportunidades me fossem oferecidas não as desdenharia. Apenas gostava que não fossem estes os primeiros a desinteressarem-se pela política. Se tivesse sido esse o caminho seguido pelos meus pais certamente não teria a consciência cívica que tenho hoje.
Antes tinha o hábito de ouvir os debates parlamentares. Eram interessantes e esclarecedores. Mesmo quando eram política pura. Agora ninguém ouve o que se passa no Parlamento, esperam pela crónica de um dos comentadores do momento ou pelas «quadraturas» e «eixos» que ocupam os horários televisivos. Ainda bem, diga-se. É sinal que ainda vale a pena trocar ideias. Só gostava de perceber é o motivo que leva as pessoas a ouvir estas trocas de ideias e a não querer participar nelas. Presumo que seja porque dá trabalho. O simples acto de ter de explicar um ponto de vista a alguém cansa. Às vezes questiono-me se Dias Loureiro tinha razão quando nos chamou de «geração rasca». Foi um escândalo, não conheci ninguém que então não se tivesse ofendido. Mas passados estes anos como se comporta esta geração? «A política não presta, os sindicatos não servem, quero é o meu «T2-T4 com garagem pró P2...» e o meu ipod e iphone e o que mais estiver na berra. Trocar ideias é chato. Não resolve nada. E afinal o país nem está assim tão mal. Pelo menos eu não tenho amigos que vivam na rua. E afinal todos vamos tendo trabalho.»
Eu sei que é mais agradável falar de música e dizer uns disparates que dispõem bem. Até ler este texto custa, estou certo. Mas sinceramente, também não vale a pena ser como a avestruz e enfiar sempre a cabeça na areia. Às vezes mais vale ficar com as orelhas a arder.

2 comentários:

M disse...

Parece-me que nesta geração tens 4 tipos de pessoas mais ou menos ligadas à política: os que estão mais ou menos envolvidos na política, sem mérito nem valias além do nome de família; os universitários BE que, em grande parte, funcionam para desviar do berloque os seus colegas que já nem os conseguem ouvir, pq "falam, falam e não fazem nada"; os que tentam cumprimir ambições e arranjar cunhas para tahos; e, por fim, os que se mexem nos meios em que estão envolvidos, de forma não partidarizada.
Onde é que isto nos deixa?

jorgefm disse...

na merda, evidentemente...