10 de maio de 2008

complexo galopim

Quando criei este blog, esta terá sido a primeira ideia que pensei publicar. É um complexo que venho confirmando desde a adolescência e que encontra a sua personificação naquele que muitos consideram um crítico musical a ter em conta: o inigualável Nuno Galopim. Ao longo dos anos conseguiu, através de um sem número de disparates, retirar alguma seriedade à profissão que exerce. A estupidez do século (do passado, pois no actual também haveria o que referir), proferiu-a numa crítica relativa a um concerto dos The Cure no Sudoeste de 1998. Segundo ele Robert Smith não passava de um rock star anestesia que toca a olhar para o próprio umbigo, pois, e atentem bem nisto, não tocou o seu tributo aos Depeche Mode. Gostava de dizer que este foi um mero deslize profissional, mas não. O senhor repete impunemente afirmações destas e, esta é a parte que me preocupa, arrasta com ele um séquito que com ele as repete. Seja como for, é por causa de momentos infelizes como este que não nutro grande afeição pelo seu trabalho. São várias as vezes que dou por mim a ler as suas críticas (num masoquismo inqualificável) e a ficar exactamente no ponto de partida. Quando assim não é, a situação piora. É vulgar o facciosismo militante que não lhe permitir a imparcialidade necessária para emitir uma sentença. Dirão que todos os críticos são assim, mas não é verdade. Várias vezes encontro aqueles que são capazes de sair da sua superioridade intelectual e analisar imparcialmente os trabalhos que lhes apresentam. Dentro de diversos géneros, acrescento. Diga-se que um dos melhores exemplos até partilha um blog com Galopim e chama-se João Lopes.
Lembro-me sempre de ouvir dizer que os críticos de qualquer área são sempre os que nela falharam. Não sei se assim será. Sinceramente espero que não. Não podem é sofrer do estigma que passei a designar por complexo galopim e que dá o mote a este texto. Este estigma aplica-se a todos aqueles que até são comuns mortais, mas quando se expõem têm a tendência para numa qualquer conversa ir procurar a banda mais obscura, o filme mais abjecto ou o livro desconhecido. E porque o fazem? Essencialmente porque gostam de vincar a sua originalidade. Não haveria nenhum problema se fosse genuíno (ou se os 16 anos durassem para sempre), mas na esmagadora maioria dos casos não é. Estas pessoas ouvem os mesmos discos que nós, vêm os mesmos filmes e lêem os mesmos livros. Só se transformam quando expostos ao público. Ora metamorfoses destas não me agradam. E não creio serem aceitáveis num profissional. Sobretudo com a sua visibilidade. Eu sei que nesta terra quem tem olho é rei, mas não vale tudo.
É por isto que quando pensei neste complexo o apelidei de Galopim. E o senhor, se lesse este texto, nem se ofenderia, estou certo. Afinal toda a publicidade conta. Até reconheço que lhe estou a dar demasiada importância, embora não fosse esse o meu objectivo . Só é desagradável ver que gente desta é que decide o que se ouve ou não em Portugal. E que tenha amigos que o usam como referência, como se ele fosse alguma sumidade. Se ele considera que ouvir Abba é sinal de bom gosto, eis que de repente começo a ver o mais acérrimo «be» a dançar o Dancing Queen. Tenham juízo e pensem com os vossos neurónios, ainda que sejam poucos. O senhor às vezes é para levar na brincadeira, não tem muita validade.

2 comentários:

M disse...

Complexo Galopim ou preconceito Galopim?

Apesar de nem sempre concordar com o que o Galopim diz ou escreve, não creio que as suas opiniões tirem qq tipo de credibilidade à profissão q exerce... Antes pelo contrário, todos os críticos são pagos para darem a sua opinião, mesmo que n seja concordante com a dos leitores. E a crítica, tal como o humor, n tem q ser imparcial e é bom q n o seja, pq há por aí muito boa gente q nas suas reviews "imparciais" de álbuns se limita a despejar as press releases enviadas pelas editoras - o que só mostram que, provavelmente, nem ouviram o álbum em questão.

Axo q a metamorfose é bem mais visível no "cidadão comum" do que no crítico e, ainda q nestes possa existir, n me parece q seja o caso do Galopim, que muitas x ouvi defender as bandas de que gosta mm q outros estivessem a gozar com ele. Usar a crítica como referência mostra falta de personalidade, logo o problema é, uma vez mais, de quem a lê, apesar de me parecer igualmente grave o uso do critério "passa\n passa na Radar".

E, concorde-se ou n com o q o Galopim escreve, ele tem um papel na música portuguesa que vai muito além da crítica, como demonstra o caso dos Humanos.

Já agora, só para chatear: axo q ele n usou as melhores palavras, mas o concerto dos The Cure teve um alinhamento completamente desajustado ao espaço, seria bom para um coliseu, por exemplo e foi revelador de uma atitude de superioridade de uma banda que não tem qq tipo de interesse em conquistar novos fãs... E, isso sim, é o q o Galopim fez na noite em q esteve como DJ e eu assisti, nas outras n sei. Já agora, n foi o Galopim q organizou a colectânea onde a tua banda entrou? "N se morde a mão que nos dá de comer" - é assim que se diz n é? :-P

jorgefm disse...

Ele a mim nada me deu que comer. E não, não foi responsável pela colectânea. Mas ainda que fosse diria o mesmo. O alinhamento dos The Cure foi perfeito para o espaço e relembro-te que não deve ter sido este o concerto que viste, pois já falámos sobre isto. Aliás, o Nuno Galopim foi o único crítico que falou mal desse concerto. Ele aliás só viu qualidades no concerto de Sonic Youth, que desagradou ao mais acérrimo fã. Cometes ao acusar os Cure de superioridade o mesmo erro. Mas seria normal uma banda (seja ela qual for) com tantos originais não tocar para os seus fãs. Percebo que não apreciem, mas tenham dó. Claro que seria necessário leres todo artigo para verdadeiramente compreenderes a extensão do disparate.
Quanto à cópia de press releases, são inúmeraqs as vezes que também vi Galopim fazê-lo, mas enfim...
Relativamente ao complexo vs preconceito: o que te posso dizer. Interpretas como quiseres. Gostaria de te dizer, porém, que nunca defendi as minhas opiniões por modas como aliás bem o demonstro neste texto. Passar ou não na Radar é-me indiferente. Até te posso dizer que acho que a Radar sofe do tal complexo e essa para mim é parte importante da questão. Não preciso de ser educado no que oiço e não preciso da validação. Tal como no Incógnito preciso de quem me divirta e não de quem me demonstre ser um conhecedor. Para isso tenho muitos melhores exemplos.