23 de fevereiro de 2012

"Solução Final"

É uma profecia que vou vociferando, mas parece finalmente próxima de acontecer. Cansei-me de protestar contra as condições e obstáculos colocados aos professores contratados para exercer a sua profissão. Fui dizendo, ano após ano, governo após governo, que o mais certo era sair, desistir, seguir outro rumo. E sempre estive consciente que podia não ser uma decisão, que podia ser empurrado porta fora.


Após quinze anos, deparo-me com mais uma proposta para regular o sistema de concursos. Já lhes perdi a conta. Mas esta parece próxima da "Solução Final". Ao que parece, para este governo é normal que um professor concorra a horários num intervalo lectivo de 6 a 21 horas. E é normal também que concorra a esses horários em espaços geográficos que distam entre si mais de 100 Km.


Já percebemos que este governo acha normal a deslocalização de trabalhadores e que 100 ou 200 km de deslocações diárias não são para eles relevantes. Já é grave que assim pensem, mas é extraordinário que juntem a esta equação o número de horas possíveis para a obtenção de um horário. Não é preciso ser doutorado em Matemática para se perceber a diferença entre o salário de um professor colocado com 21 horas - próximo de 1000 euros- e o de um colocado com um horário de 6 horas - próximo dos 300 euros (não sei valores exactos e não são propriamente relevantes aqui).


Para quem ainda não percebeu o que está em causa, façam esta pergunta a vocês próprios: estariam dispostos a arriscar ir trabalhar a 50, 60, 100 Km de casa a troco de 300€? Não é obviamente realista e nem se percebe o objectivo a alcançar.


No meu caso é simples. Se a proposta vingar, serei mais um a adicionar aos números do desemprego. Já trabalhei diversos anos longe de casa e sempre a troco do mesmo reconhecimento. Nenhum! Quando algo muda, é sempre para pior. Agravam-se as condições de trabalho e dificulta-se o acesso a uma carreira que já nos devia pertencer por direito. A mim e a todos os que como eu têm andado de escola em escola a dar o melhor que têm.


Já não há paciência para tanto desrespeito.

2 de fevereiro de 2012