31 de dezembro de 2012

fine

Não sei se há um momento perfeito, mas há certamente um momento para tudo. E este blogue serviu o seu propósito. Foi um local de desabafos, partilhas, músicas, muitas músicas, fotografia e divertimento. Conheci amigos e exorcizei angústias. E por isso estou grato.

2103 publicações depois, chega a hora de dizer adeus. Há meses que ia perdendo sentido. Os espaços mudam e o que por ora quero partilhar encontra uma resposta melhor noutros locais, apenas diferentes. E eu também estou diferente.   


Quero apenas agradecer a todos os que por aqui passaram. A 'pressa de chegar' não vai perder sentido. E talvez um dia exista vontade de a retomar.

Um bem haja a todos. E que 2014 chegue depressa, pois nenhum mal vos desejo.

Até breve!

20 de novembro de 2012

os profissionais da desordem

Nós queremos acreditar que tudo vai correr pelo melhor. É a nossa característica de povo pacato e sereno. Torna-se, porém, mais difícil a cada dia que passa.

Ontem ouvi o nosso Ministro da Defesa confirmar o total autismo de quem nos gover
na. Repetiu o que já tinha dito no dia da apresentação do orçamento. Segundo ele, o governo bem quer cortar na despesa pública, apenas o Tribunal Constitucional não o permite. Tal afirmação devia faze-lo corar de vergonha e a nós gritar de raiva.

Obviamente que o Tribunal Constitucional não é nunca um entrave à governação. Excepto para aqueles que advogam a tal 'suspensão da democracia'. O poder judicial é independente e ainda bem que o é. Ao governo compete cumprir a lei e aos tribunais verificar o seu cumprimento. É chato cumprir a lei? Às vezes é e basta lembrar a sarna que vai ser cumprir a lei do Orçamento de 2013.

É muito grave um governante dizer isto. Mas não fica, infelizmente, por aqui. No mesmo testemunho, Aguiar-Branco afirma que sempre foi intenção do governo cortar na despesa e foi o Tribunal Constitucional que obrigou a cortar na receita. E aqui há outra claríssima indignidade.

Este governo disse, repetiu, reafirmou, gritou a plenos pulmões, em campanha eleitoral que não iria aumentar impostos e que nunca cortaria nos subsídios. O que vemos é que afinal era essa a ideia de corte de despesa de quem foi eleito. Cortar nos subsídios era a solução e esta solução nunca foi legitimada nas urnas. 


É um problema que se arrasta há muitos anos, mas que se agravou exponencialmente desde os governos de Sócrates. Não é possível continuarmos a permitir que quem nos representa minta e iluda. É a nossa vida que está em jogo e todos os dias ficamos um pouco mais pobres. Literalmente. De espírito e carteira. A maior parte das pessoas nem questiona o que ouve. Manda umas bocas, mas depois não perde dois segundos a pensar sobre isso. Só assim se pode justificar as escandalosas sondagens da passada semana.

Dia após dia, uma nova notícia agrava tudo mais um pouco. Um dia, talvez não muito distante, todos vão perceber. E aí é capaz de não dar para responsabilizar meia dúzia de arruaceiros.

14 de novembro de 2012

do que estavam à espera?


estes distúrbios não são o resultado de 'profissionais da desordem'. eles estão lá? estão por certo. mas o equívoco é ninguém perguntar o que os leva lá. e esse equívoco é cínico e deliberado.

os sindicatos não dão, de momento, resposta às pretensões de quem protesta. tenho assistido a isto semana após semana. levam os cartazes, altifalantes, discursos, coletes, mas, invariavelmente, chega à hora de fecho do expediente e viram as costas. agem assim de propósito? provavelmente, pois uma das funções que têm é precisamente assegurar a ordem dos protestos e ao virarem as costas magnificam a sua necessidade.

ora o problema é em parte este. quem lá permanece não tem horário. muitas vezes nem tem trabalho. e sentem-se abandonados, sem voz. protestam, uma e outra vez, e o que ouvem é um enorme silêncio. quem governa não quer saber. nem percebe tão pouco o que os motiva. e quem momentos antes os acompanhava também não.

é este o desespero. e a ele se soma o cinismo da classe média que ainda pouco ou nada perdeu. essa gosta de protestar, mas não vai lá, não se faz ouvir. e mais uma vez fica o abandono. e este até soa a traição, pois quando os ânimos se exaltam, a reacção desta classe média é condená-los. rotula-os, isola-os. e ainda mais sozinhos se sentem.

por isso não gosto de ouvir este discurso. já lá estive. são pessoas normais, como vocês ou eu. apenas mais desesperadas. ou nem isso. apenas desligadas dos outros, pois como nada têm a perder, nem se preocupam com o que os outros deles pensam.

uma coisa tenho dito dia após dia. detesto violência. nunca para ela contribuí. mas hoje e por todos estes dias, se me pedirem para escolher um lado, eu escolho. e serei mais um dos desordeiros.

os motivos deles eu percebo bem. o que eu não percebo é quem nada faz e quem critica confortavelmente na segurança que ainda tem.

percebam. não custa mesmo nada. os protestos eram pacíficos. e para que serviram? a surdez tem estas consequências. um governo não serve para nada se não ouve aqueles que governa. e quanto menos ouve, mais encurrala quem protesta. isto é simples. é só deixarem o vosso conforto.

para a próxima não rotulem. apareçam. vão ver que tudo será mais calmo.

3 de outubro de 2012

protestem agora ou calem-se para sempre


Já estou farto de protestar. E de escrever sobre protestar. Também já estou farto de me manifestar. Não por não ver resultados, mas essencialmente por perceber que o que me move não é o mesmo que move os outros.

Não sou nenhum anjinho. Não aspiro à beatificação. Mas também não me recordo de sair à rua só para defender o que ‘a mim’ me interessa. Tantas e tantas vezes teria feito melhor em estar calado. Se calhar também esta é uma oportunidade perdida.

Ouvi o Gaspar. Também ouvi o Coelho e o Borges e todos os outros que agora nos governam. Também ouvi o Sócrates e o Pereira e o Silva. O que fiquei eu a saber? Que já estou farto de ser responsável.

Não sei o que de tudo isto sairá. Vejo (e lamento) que há uma determinada classe média a entrar no discurso da falta de alternativas. Na intolerância para com aqueles que se manifestam. Vejo até quem procure justificar o injustificável e critique todo aquele que se desvie da norma – entenda-se comportamento ordeiro que nada perturbe o bem estar alheio.

Ouvi criticar os que assobiam a classe política. Os que chamam gatunos aos Conselheiros de Estado. Como se fosse, de facto, o que importa. E ainda há os que são selectivos. Manifestações? Só se forem apartidárias (como se realmente isso existisse).

Há ainda os que clamam por um regresso ao passado. A estes pergunto se de alguma perturbação sofrem. O que de errado este governo está a fazer é manter o discurso, a postura e a arrogância do PS. Direita? Se alguém via Sócrates como um homem de esquerda...

Se continuamos assim, nada terá solução. Sacrifícios sempre estive disposto a faze-los. Até os percebo, dado o desnorte dos últimos 30 anos. Mas só posso aceitá-los se sentir que eles são úteis. E, perdoem-me, estes não são.

Vem-me à memória a interpretação de Branagh em ‘Henrique V’. Era um adolescente quando vi e esclareço já que não sou, nem nunca fui, nacionalista. Lembro-me de pensar que perante aquele discurso até eu pegaria numa arma.

Este governo não empolga ninguém. Aliás, em 18 meses desbaratou todo o capital que tinha ganho sem qualquer mérito. Presumo até que se cair, tudo ficará muito pior. O caminho deve estar armadilhado.

Já não importa. Se as únicas certezas que nos dão são estas, então prefiro as incertezas. Que se lixe o euro, o salário e a ‘casinha’. Se cair, pelo menos não caio sozinho. E estes não se ficarão a rir.

8 de setembro de 2012

indignar: v. t. 1. revoltar: a atitude dele indignou-me.


Passadas 24 horas do anúncio do roubo, ocorre-me dizer isto. O CDS/PP, e isto é o mais evidente, desapareceu. Daqui em diante só poderá ser um espectro de partido, pois duvido que alguém compreenda e se esqueça da sua atitude perante estas medidas. Ir ao ponto de não considerar um aumento de imposto o que foi anunciado é gozar e prestar-se a um serviço indigno e incompreensível. Foi a opção que tomaram. É pena que se tenham enganado na sua grandeza, pois o povo perdoa tudo aos grandes partidos, mas não perdoa nunca a quem com eles pactua.

Há mais. Desta vez será incompreensível que este povo não se manifeste. Se tal acontecer, perderá por completo a noção do seu papel e deitará à rua tudo o que se lutou por conquistar nos últimos 100 anos. Digo bem, pois isto já não é só falar de direitos adquiridos em Abril.

E estou preocupado. Estou mesmo. Vejo muitos protestos nas redes sociais, muitas graçolas, indignação de quem agora também sofrerá, mas que antes achava bem porque era para os outros, mas é só. Manifestações? Protestos? Pelo que vejo são para ficar pelo café. Ou então para fazer ao Sábado. Tipo passeio de convívio, de forma a não incomodar quem produz.

Eu estou farto. Já não é assim que se passa a mensagem. Se querem fazer-se ouvir, façam-no a sério. Com manifestações quando elas incomodam. Com greves a sério, não daquelas de um dia de passeio ao centro comercial. Esta gente nunca perceberá de outra forma.

Nuno Crato (uma das maiores desilusões governativas de que tenho memória) dizia ontem que não espera contestação à sua política. E como ele pensa todo o governo. Jogam na desunião, no receio, e assim brincam com o nosso trabalho e com a nossa dignidade.

Para os que ainda não perceberam o que vai acontecer, aconselho-vos a utilizar o simulador publicado pela RR. Mostra bem o que vamos pagar pela Sonae, Jerónimo Martins, EDP, Galp e tantos tantos outros.

Acreditam mesmo que desta política virá emprego? Que um só posto de trabalho seja criado? Se assim for, então são profundamente ingénuos.

Já chega. Digam-no, mas digam-no a sério. A quem importa. Não partilhando estúpidas imagens no facebook. E saiam à rua. Surpreendam-nos!

4 de setembro de 2012

concorrer ao cu de judas ou lamber o cu de judas


Acredito que a vinculação vai acontecer. Primeiro por nada custar. Segundo por ser reafirmada quase diariamente. Terceiro, e baseando-me na minha sorte pessoal (de um rigor científico inabalável), por não ter sido colocado. Sempre foi assim quando algo de significativo aconteceu.

E pronto. Agora vou dizer o que penso.

A vinculação?

Acho bem. É de uma justiça a toda a prova, pois limita-se a cumprir um direito constitucional.

Agora perdoem-me que manifeste as seguintes preocupações:

Não sei o critério que estará a ser pensado, mas se acreditar no que tem sido dito, só se aplicará a quem tem mais de 10 anos de serviço, a quem conseguiu colocação a 31 de Agosto e, provavelmente, com horário completo.

Se assim for, lá se foi a Constituição e qualquer preocupação de decência básica.

Tanta e tanta gente com tantos anos de serviço de fora e, em alguns casos, ultrapassados por renovações, ofertas de escola manhosas e outros ardis.

Acresce a tudo isto que a FNE, acreditando nas palavras do seu líder, conseguiu ainda garantir que estes vinculados estarão sempre numa prioridade diferente dos que já integram os quadros.

Tudo isto é uma vergonha. Sinto aliás vergonha alheia por quem defende esta separação. Sim, é verdade que há contratados com mais graduação, mas também é verdade que quem já lá está beneficiou de progressões, mudanças de escalão e afins. Separá-los na graduação é defender o coiro, sem qualquer respeito por quem igualmente se sacrificou pela profissão. E não, não há uns mais coitadinhos do que outros.

Por fim, cumpre-me apenas deixar mais uma convicção: acredito que a vinculação terá um custo. Pior por certo que os dois qzps obrigatórios para concurso (esta gente não dá ponto sem nó). A alternativa, claro está, será cair nas boas graças de um Director. Daí em diante será por certo a única possibilidade, que ninguém quer de facto pôr cobro à pouca vergonha que são as contratações pelas escolas. Por cada um que fica de fora, há um afilhado que se safa.

E pronto. Não me apetece dizer mais. Aliás, nem me apetecia escrever nada. Mas um título tão bom, tinha de ser explicado.

Que tipo de Judas (és) serás tu?

3 de setembro de 2012

submisso.


Ontem indignei-me ao ouvir as declarações do menino que lidera a JSD. E só pode mesmo ser um menino, pois ninguém com maturidade alguma vez poderia proferir aquelas palavras.

As palavras, que orgulhosamente repetiu no fim do discurso, referiam-se à necessidade de ‘libertar a sua geração dos direitos adquiridos’. É de uma estupidez atroz e só possível de ser dito por alguém que nunca trabalhou na vida ou que dificilmente alguma vez saiu do jugo protector da sua família. Certamente daquelas extraordinariamente empreendedoras.

É grave que o pense. É grave que o diga. Esses malditos direitos contra os quais tanto vocifera, são o que nos dignifica enquanto seres humanos. Garantem o acesso à educação, à saúde, à reforma, ao apoio social no desemprego, à habitação. E, já agora, garantem até a liberdade que tem de proferir disparates em público!

Isto começa a ser demasiado e a ignorância não justifica tudo. Tudo parece estar a ser orquestrado para uma nova miséria, que por enquanto nada afecta ou preocupa estes pseudo neo-liberais. E é provável que com toda esta passividade as asneiras se acumulem.

Há pouco li que a ‘Troika’ quer aumentar os dias de trabalho semanais na Grécia de cinco para seis. A mim apetece-me dizer para sem reservas se acabar com os salários. Voltar ao regime feudal. À séria! Parece que só isso pode gerar desenvolvimento e deixar de oprimir a juventude. Pelo menos a dos laranjinhas.