21 de abril de 2008

velhos são os trapos

Não sei quando comecei a ter esta percepção, mas estou hoje absolutamente consciente de que a idade está a avançar. Não o sinto muito a nível físico, nem sequer ao nível psicológico. Nesse aspecto continuo a sentir que sou o mesmo miúdo de sempre. Continuo, inclusive, a fazer uma vida muito semelhante à que sempre fiz. Tenho algumas responsabilidades a mais, é certo, mas no geral continuo é a gostar de ouvir música, estar com os amigos e divertir-me.
Se assim é, então como ganhei esta percepção? Em parte por causa de momentos como o que vivi hoje. Cheguei ao vídeo clube e perguntei à rapariga atrás do balcão se por acaso tinham o Delicatessen. Certamente já vos aconteceu algo semelhante. A rapariga ficou a olhar para mim sem saber o que dizer e chegou a pedir para escrever no papel o nome do filme para procurar. Perguntou, também, se o filme era recente e a minha resposta não foi imediata. Na minha cabeça foi ontem que o vi no cinema, mas na verdade já lá vão uns anos. Dezassete anos para ser preciso. DEZASSETE?!!! Isso significa que tinha metade da idade que tenho hoje. Porra! Como é que isto aconteceu?
É perfeitamente normal ter alunos que nunca ouviram falar de Joy Division ou que falam dos The Cure como eu falava daquelas bandas que os meus pais ouviam lá para os anos 60. É óbvio que agora eles dizem lá para os anos 80, aquele tempo ridículo em que alguns nem eram nascidos.
Devo dizer que isto não me incomoda. Como miúdo que ainda me sinto a minha primeira reacção é sempre dizer: «Como é possível nunca teres visto esse filme?», ou «Como é possível não conheceres essa banda?». Isto é característico do meu estado de estupidez natural. Mas a piada é que de facto já pertenço a uma geração. Como a dos meus pais. E já há elementos que marcam a minha época, como sempre achei que aconteceria. Só não sabia é que já tinha chegado esse momento. E claro não sabia como ele se iria manifestar. Para mim é em dias como os de hoje.
«Como é possível nunca teres visto o Delicatessen? Sua ignorante! Sua estúpida! Mas tu vês alguma coisa que se aproveite?» Não o disse, mas podem crer que foi o que pensei...

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é, meu velho, não há dúvida de que, em muitos casos, é mais "generation gap" (ai, aquelas fastidiosas aulinhas de inglês com o recorrente e embaraçante tema do generation gap em que os adolescentes éramos nós)do que ignorância. Porque, ao falar, também de cinema, com um jovem - ó jovem! - aconteceu-me, no outro dia, algo de semelhante. Falava eu do "Alien - O Oitavo Passageiro", e o miúdo-graúdo, invulgarmente douto, sai-se com esta: "Ah, isso é do realizador do Gladiador, não é?" NÂO! Não, não! O "Gladiador" é que é um "isso" e o Gladiador é que, acidentalmente, é do realizador do Alien, ok?
Outro sintoma: mas que raio de ser é um emo?! Como, às vezes até pareço um bocado emo?! Devo ficar ofendida? Um emo?! Será mais uma espécie para-humana saída do "Senhor dos Anéis"? Terá os pés peludos? Mas, mas... eu gostava mais de parecer um elfo... Eternamente linda e jovem... sniff

Maria