Tive oportunidade de ver o Prós e Contras de segunda-feira numa reposição na RTPN. O tema era o acordo ortográfico e como quando liguei a televisão estava a falar Maria Alzira Seixo, fiquei imediatamente cativado pelo programa. Devo dizer que dada a falta de isenção da jornalista que o coordena aquando dos debates da educação, só a qualidade de alguns dos intervenientes me manteve atento.
Não sei se tinha verdadeiramente uma opinião formada sobre este acordo. Estava, como a generalidade das pessoas, céptico, não sabia se o suficiente para dizer que estava contra. Neste aspecto o programa serviu o seu propósito, o de ajudar a formar uma opinião. Ouvi com atenção os argumentos apresentados e fiquei espantado por não ouvir uma única opinião favorável ao acordo por parte de um linguista. Este aspecto é por si só suficiente para o questionar. Mas há mais. As opiniões favoráveis que ouvi não utilizavam argumentos científicos, antes argumentos políticos. Até fiquei a saber que existe uma profissão de especialista em política da língua, que reconheço estou ansioso de perceber verdadeiramente o que é. A lógica dos defensores do acordo é a de seguir o Brasil (potência emergente no mundo económico), sob o risco de ficarmos «orgulhosamente sós». É uma lógica que me custa a aceitar, pois parte do pressuposto que temos de estar sempre com quem vai à frente, sem questionar se é mesmo o que necessitamos. Lógica política, portanto, tal como a que nos levou a aderir à moeda única sem medir as consequências negativas para a nossa economia.
Sempre tive dificuldade em conviver com as maiorias. Se todos estão de acordo costumo desconfiar. Mas neste caso nem esta situação se coloca. A maioria está contra este acordo (e estou a referir-me à maioria dos estudiosos da língua, essencialmente) e quem no tal programa ouvi pronunciar-se favoravelmente não apresentou um único argumento científico plausível que justifique a sua aceitação. Queria neste aspecto dizer que se calhar a escolha dos dois primeiros entrevistados foi infeliz. O reitor de uma Universidade quase tão credível como a Independente e uma escritora de cordel, que tiveram afirmações quase inacreditáveis. O primeiro chega a insinuar que o problema de quem está contra é a xenofobia. Claro que não o disse com esta palavra, mas pouco faltou. E este argumento não é perigoso, é estúpido. A escritora convidada (Lídia Jorge), quando confrontada com a opinião de um tradutor disse que não tínhamos nada que nos preocupar com questões económicas e de emprego. Não resisto a dizer que, dado o tratamento que a senhora dá à língua portuguesa e se a cultura fosse de facto valorizada neste país, ela é que devia estar preocupada com o seu emprego.
Não sou xenófobo nem nacionalista. A preocupação de ficar para trás em termos linguísticos (que nem sei bem o que quer dizer) não me preocupa. Não consigo é compreender o porquê da adaptação que nos é proposta. Não percebo porque não pode haver um Português Europeu e um Português do Brasil. Cada qual seguiu o seu caminho e até ouvir uma explicação lógica da parte dos linguistas da necessidade de uma convergência considero que não a devemos aceitar. Não por razões políticas. Era só o que faltava. É a nossa língua. Pode mudar só dois por cento, segundo os defensores do acordo, mas depende da importância desses dois por cento. O que de imediato me surgiu em pensamento foi isto: e se me dissessem como lisboeta que iam mudar dois por cento da minha cidade; ora se fosse o castelo de S. Jorge ou o Mosteiro dos Jerónimos eu estava completamente contra.
O que é necessário é fazer aquilo que os políticos gostam pouco. Perguntar a quem de direito se concorda com as alterações que pretendem implementar. Ora neste caso têm de perguntar aos estudiosos da língua.
Sei que num país onde se tiram cursos de engenharia por encomenda isto é difícil de aceitar. A lógica do nacional porreirismo é sempre mais válida, porque é mais fácil. Mas é isto mesmo que eu quero transmitir às gerações futuras?
2 comentários:
Confesso que não estou muito por dentro da questão, mas o que me foi dado a entender até agora foi mesmo isso, um acordo político que vai atrás do facilitismo económico.
E, pelo que vi até agora, pergunto-me: será que não é este um primeiro passo para a escolha do "Brasileiro" e não do Português como lingua oficial?
Tal como a maioria das pessoas o acordo passou por nós como a Constituição Europeia - ouvimos falar mas a certo...
A questão do acordo é basicamente de receio económico e pouco mais. Portugal não parece que vá ganhar nada com o acordo e os Brasileiros nem sabem que houve acordo. Se todos temos que economicamente estar alinhados mais valia optar logo pela Commonwealth como fez Moçambique em tempos idos. Gostei do raciocínio: "e se me dissessem como lisboeta que iam mudar dois por cento da minha cidade; ora se fosse o castelo de S. Jorge ou o Mosteiro dos Jerónimos eu estava completamente contra." O mal de tudo, e eu sou de ciências, é querer ver tudo por um prisma quantificativo sem raciocínio crítico. Erro grosseiro.
Enviar um comentário