30 de junho de 2008

A famigerada avaliação

Quando participei na manifestação de professores de 8 de Março, a última preocupação que tinha era a avaliação. Porque o modelo proposto é pouco sério. Porque uma escola não é uma empresa. Porque não estão criadas as condições para verdadeiramente avaliar os mais competentes. Porque, mais uma vez, e como é hábito, o modelo proposto se destina aos «boys», aos seguidores da cenoura e aos especialistas em coisa nenhuma. Sabia, portanto, que caso tudo se mantivesse pouco me interessaria a sua aplicação. Ela estava viciada à partida e excluía claramente quem fora do «círculo» se encontra.
Apesar disto, e como aqui já manifestei, fiquei surpreendido com o acordo alcançado pelos sindicatos, que pelo menos no presente ano lectivo minoriza a aplicação de tão estúpida legislação. Ela tornou-se ainda mais insignificante e reduzida a uma ficha de auto-avaliação, mal pensada e estruturada.
Quando oiço a ministra dizer que a avaliação era necessária até concordo com o que diz, quando a oiço dizer que ela está em curso apenas consigo soltar impropérios pouco adequados a este texto. Sempre fiz um relatório de avaliação e não tenho o mínimo pejo em afirmar que era bem mais útil do que esta ficha que reduz a minha função como professor a treze singelos parâmetros, tão inócuos como mal pensados. Claro que sei que o relatório que entregava para nada servia, apenas considero que este para menos serve.
Talvez por isto, ou sobretudo por isto, custa-me a compreender a forma como alguns colegas estão a viver este momento de entrega da ficha de auto-avaliação. Não defendo que se ignore que ela existe. Até acho que devemos ser sérios no seu preenchimento, apesar de claramente não ser esse o objectivo. Só não percebo o histerismo. Sempre fizemos isto, agora até é versão «simplex». Para quê a preocupação?
Claro que a resposta não é difícil. A preocupação com um posto de trabalho pesa sempre. Até quando ele desaparece a 31 de Agosto. Há sempre a esperança de uma qualquer continuidade. As contas para pagar não desaparecem com o vínculo laboral. Daí a ansiedade. Não vale a pena é a ela ceder. Estruturalmente está tudo na mesma. E estou certo que não é agora que vamos acreditar que este governo finalmente vai ganhar consciência social.
Este processo é como tudo o que desta legislatura resulta. Intransigente mas inconsequente. A única batalha que vale a pena travar é a de explicar a quem opina que nada mudou. Se todos tivermos essa percepção pode ser que alguém nos oiça. O resto são balelas. De nada valem.

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