5 de junho de 2008

11ºR

A decisão de ser professor foi para mim natural. Quando terminei o secundário não era daqueles estudantes determinados que sabiam exactamente a área em que iam trabalhar. Estava convicto que iria manter-me na área de Ciências Sociais, mas eram várias as motivações que me orientavam e estou certo que até poderia ter enveredado por um diferente caminho. Às vezes bem que desejava tê-lo feito, sobretudo quando penso que ao fim de 11 anos mantenho a mesma situação precária de quando comecei. Independentemente de toda a propaganda que possam fazer, a verdade é que para o ano não sei onde vou trabalhar ou sequer se vou continuar no ensino, pois, mais uma vez, o meu contrato termina no dia 31 de Agosto e a única opção que já tomei foi a de não concorrer para longe de casa. Já o fiz durante demasiados anos e sinceramente neste momento considero que nenhuma profissão o justifica, pelo menos sem garantias de estabilidade.
Mas regressemos à opção que tomei, independentemente das angústias profissionais. Classifico-a como natural, pois foi o resultado óbvio do trabalho que fui desenvolvendo, antes e depois da faculdade. E aprendi muito com alguns professores que tive e que me «empurraram» para este caminho. Alguns no ensino superior, mas sobretudo dois professores de Filosofia do secundário, que responsabilizo todos os dias pela opção que tomei. Eram uma verdadeira inspiração e demonstraram-me particularmente a importância da exigência no ensino. Com eles sabia bem porque trabalhava e compreendia a justeza das classificações que me atribuíam. Presumo, porém, que o que me marcou para sempre foi o sentido humano com que sempre trabalharam e que sempre esteve presente nas suas aulas. As preocupações pela sociedade e o mundo em que viviam e que tão bem sabiam enquadrar nos currículos que leccionavam.
Não tenho a pretensão de ser como eles. Mas todos os dias esforço-me por transmitir um pouco do que aprendi com eles. E nem sempre é fácil. Hoje a escola é bem mais complexa na sua organização e muitas vezes perdemos demasiado tempo a serenar em vez de ensinar. Claro que por vezes temos a felicidade de encontrar turmas com quem é possível trabalhar de forma positiva e relembrar-nos o porquê da profissão que escolhemos.
Nesse aspecto até tenho sido feliz nos últimos anos. Das turmas com quem trabalhei quer em Alvalade do Sado, quer no Montijo guardo excelentes recordações. E este ano sinto o mesmo. Particularmente com este 11ºR que dá o título a este texto. A empatia que criámos e o clima de trabalho que desenvolvemos foi magnífico e por isso, no dia em que vou leccionar-lhes a última aula, aqui quero prestar-lhes a minha homenagem. É cada vez mais raro encontrar alunos interessados e interessantes e, sobretudo, alunos que nos desafiem e que nos obriguem a ser ainda melhores. Muitas vezes questiono-me sobre o que me mantém ligado ao ensino e a resposta encontro-a nestes momentos. É por isso que ainda não desisti. Obrigado!

2 comentários:

M disse...

Ainda há quem consiga encontrar a motivação sem ser na recompensa monetária e na estabilidade. Nas pequenas coisas, que fazem com que acordar todos os dias valha a pena. Parabéns.

Ciência Ao Natural disse...

:)

Abraço

Luís Azevedo Rodrigues