25 de março de 2009

as part of an adverb

Os números valem mais que a qualidade. É o que vou sabendo pela boca da nossa ministra. Sempre orgulhosa da sua marcha, nada a detém, nem mesmo a realidade. Hoje é o número das faltas que diminui, amanhã o analfabetismo é irradicado do planeta. Obra sua, claro, ao introduzir este imaculado Estatuto do Aluno.

Já nem me apetece explicar por que é este Estatuto tão mau. Quem com ele trabalha sabe bem o que ele representa e compreende a sobrecarga que foi imposta aos directores de turma e professores. Digo bem, pois os alunos pouco ou nada sentiram com a mudança. Os bons e cumpridores alunos assim continuam. Os outros também. E as turmas continuam a ter o mesmo número. As presenças oscilam como o habitual.

O que mudou então? A resposta é fácil. Introduziu-se uma prova. Mais uma. E para castigar quem: os professores, que perante os incumpridores alunos, ficaram incumbidos de realizar provas de recuperação. Sem ordem nem nexo, ao sabor de cada escola e de cada entendimento, pois o ministério não se preocupa com tais miudezas. Os alunos que a ela são submetidos estão na mesma. Continuam a faltar como sempre o fizeram ou continuam a frequentar as salas de aula. Os que faltaram à prova ficam retidos, mas, e pelo menos para os que estão dentro da escolaridade obrigatória, nada muda.

Como devem imaginar tudo isto é feito em nome da qualidade. E os números apresentados reflectem apenas uma situação típica em Portugal: a capacidade de todos em lidarem com o ridículo. Os professores deixaram de marcar mais umas faltas, pois sabem bem que se as marcarem os únicos penalizados serão eles. 

É disto que a ministra se orgulha. Do milagre estatístico. É disto que os portugueses gostam. Das aparências. Que tudo isto seja estúpido é indiferente.

À tarde, em conversa com uma colega de armas, falávamos dos alunos. Estes que cada vez mais estão «presentes», mas que desconhecem em absoluto a exigência, a responsabilidade e a educação. Dizia-me ela que os pais um dia vão perceber. E que tal acontecerá quando os filhos canalizarem a sua agressividade para eles. A tal agressividade física que é cada vez mais notícia. Pode ser que sim. Pode ser que seja exactamente o que falta.

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