Há quem goste de não perceber. Eu também gostava. Gostava de não saber que amanhã abre novo concurso de professores. Adorava acreditar que é um processo normal, com as vagas necessárias, feito para suprir as necessidades das escolas. Obviamente não tenho tal sorte. Sei que mais uma vez um governo não cumpre a lei, esconde as reais carências e consegue ainda o milagre da viciação das listas, através da ridícula avaliação do ano passado.
2.600 vagas para o quadro. Como eu gostava de ser um «calhau com olhos» que não percebe o que isto significa. Adorava não conhecer a precariedade, a instabilidade e o cansaço que tal situação provoca. Que para muitos isto significa mais quatro anos a contrato. A somar em muitos casos a outros dez ou quinze. Mas claro que isto não tem nada a ver com a qualidade do ensino. Afinal, e ao contrário das outras profissões, a de professor não precisa de motivação e boas condições de trabalho. Isso é só para os outros. Para os gestores, os empreendedores e outros que tais. Os professores, essa canalha que não trabalha e nada faz, não merecem nada.
Para os socialistas convictos gostava de lhes recordar outro tempo. Aquele da demissão do governo de Guterres. Ficou, então, na gaveta um acordo assinado com os sindicatos que provia de lugar nos quadros todos os professores com mais de seis anos de serviço. Bem sei que o Estado não é um centro de emprego, mas reparem que na lei geral são três os anos necessários para que tal suceda numa empresa. Repunha-se alguma justiça, portanto. Até por que estes professores continuam nas escolas. Continuam a ser necessários. A ironia é esta: sabem porque não cumpriu o governo o acordo? Considerava que como governo de gestão não tinha legitimidade para honrar o estipulado. Será preciso dizer mais alguma coisa?
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