25 de maio de 2009

"Por Trás dos Montes", um filme

Caros amigos e seguidores. Escrevi um argumento para um filme. Apresento-o ao mundo aqui.


Argumento reduzido de
"Por Trás dos Montes"

Ferrand e Clermont são dois irmãos, sem o saber, filhos de Alzira e Manel, dois emigrantes em França de idade já avançada, mas não velhos. Ambos têm bigode. Ferrand, o irmão mais velho de 23 anos, nasceu fora do casamento dos dois e foi abandonado em criança à porta da propriedade de um empresário de construção civil em Montpellier, Jaquim. Clermont, de 19 anos, vive com os pais em Créteil, nos arredores de Paris. Os dois jovens são estudantes; a profissão dos pais não interessa. Ambos têm vindo a reprimir sentimentos de atracção por pessoas do mesmo sexo.

Ignorando serem irmãos, Ferrand e Clermont, passam férias na mesma aldeia, em Salto, Montalegre, Trás-os-Montes, Portugal. Durante o fim de semana das festas em honra de Nossa Senhora da Guia, na primeira noite, em pleno baile com convidados especiais, ambos trocam olhares lascivos e nasce entre eles um sentimento de atracção. Nessa mesma noite, a seguir ao leilão e quermese, são lançados os fogos de artifício. Uma das canas, ao cair, e ainda incandescente, provoca um incêndio florestal. Toda a aldeia vai em socorro do eucaliptal, ajudando os Bombeiros Voluntários de de Salto e de Montalegre a extinguir o fogo. Aqui haverá cenas em câmara lenta, com os corpos nus da cintura para cima e calças de ganga, em que os dois irmãos se observam languidamente enquanto batem as chamas com umas folhagens que arrancaram do matagal.

Na noite seguinte - já que as festas duram um comprido fim-de-semana - os dois rapazes são incapazes de reprimir, para com o outro, o sentimento de mútua atracção sexual que os une. Depois de cândidos e desajeitados movimentos de engate, passam a noite juntos no recreio da abandonada escola primária. Estão apaixonados.

As férias ainda estão no início, e, sendo Salto uma aldeia pequena, cedo a população descobre a relação entre os dois rapazes, apesar de os mesmos se encontrarem furtivamente nos montes de Trás-os-Montes. São especialmente observados por um grupo de crianças, enquanto nadam apaixonadamente na ribeira. São interrompidos pelos ataques de fisga e pedras que este grupo infantil lhes lança. As mesmas espalham pelas respectivas avós o que viram.

O período de férias que se segue é difícil para os dois irmãos, apaixonados e desconhecendo a intrínseca relação familiar. São insultados na rua, as pessoas comentam e condenam a relação, Manel espanca Clermont e Alzira chora. Após este período de ostracização, bastante explorado e o âmago do filme, o casal decide abandonar as respectivas famílias e amigos, não suportando os ataques de que são alvo.

Decidem renegar todo o seu passado e voltar para França para viver uma vida a dois, seguindo o conselho gritado do cimo de um tractor por um primo afastado: "voltem mas é pr'á França, esse país de paneleiros". Abrem uma empresa de construção civil e decoração de interiores no Marais, em Paris. São plenamente felizes.

Um ano depois, Alzira visita-os e revela, durante o almoço, a relação familiar que tornará o amor dos dois irmãos impossível. Ferrand vê Clermont morrer a seus braços, engasgado.

FIM


Copyright 2009, todos os direitos reservados.
Qualquer semelhança com pessoas, factos ou situações reais é pura coincidência.

10 comentários:

sanja disse...

Pure gold. I want this story on a t-shirt, on the back, with "Voltem mas é pr'á França, esse país de paneleiros" written on the front. Signed by the author, of course.

jorgefm disse...

E isso foi tudo à conta da deambulação pela Golegã? Valente!

Alberto disse...

Esperemos que não passe por cá alguém ligado à TVI. Se bem que a RTP é mais dada a mini-séries de contexto social histórico.

CN disse...

Adorei, Tiago. Parabéns. É um guião fabuloso. E embora seja uma história fantástica é, toda ela, verosímel, nomeadamente a conexão entre construtores civis e paneleiragem. O Matos e o Sousa que não saibam disto...

Cristina disse...

Permito-me, contudo, indicar algumas precisões (uma vez que na nota de rodapé não incluis "semelhança com lugares"):

Antes de mais, de longe a mais importante, Salto é uma VILA, e de tamanho razoável.
Depois, não há em Salto festas em honra de Nossa Senhora da Guia, mas sim de Nossa Senhora do Pranto, a padroeira da vila.
Nessas festas não há leilão nem quermesse, mas sim carrinhos de choque e tendas de produtos de artesanato, tretas made in china, farturas e cds de artistas de qualidade dúbia.
A escola primária não está abandonada. Quer dizer, a não ser que te refiras ao facto de a festa ter lugar em Agosto, ou seja, durante as férias escolares.
Ainda, o fogo de artifício em Salto já há muito que não é de canas, e sim o chamado "fogo preso". É chique.
Depois, não posso jurar mas acho que nunca lá vi eucaliptos.

Hum, acho que me fico por aqui, o resto é, de facto, verosímel.

Chama-me para as filmagens dos croma.

João José Pires disse...

Realiza isso, pá. Para o ano temos mais uma vitória em Cannes.

"Um dos filmes mais perturbantes de Ferreira Marques"
Deborah Travers,VARIETY

"Será incapaz de tirar os olhos do ecrã"
Peter Young,ROLLING STONE

"Finalmente um filme amor a sério"
Heather Bennett,THE REELER

"Chocante e profundamente comovente"
Ray Huntington,HOLLYWOOD REPORTER

Unknown disse...

Um guião ao estilo "Amor de Perdição" enquadrado na revolução sexual que toda a gente teima em negar que ainda por cima tem como protagonistas dois emigrantes durante umas ferias no recôndito Portugal!! Palavras para quê!..Vão em frente que o que é preciso e abanar a MALTA!

Carlos Alberto disse...

É "verosímil", oh Cristena.

Cristina disse...

Pois, mas quis brincar com o chefe, cujo comentário me precedeu.
De qualquer forma, felicitações, uma correcção ortográfica é sempre um contributo valiosíssimo num espaço comentários de um blog.

Unknown disse...

Niilismo sem sarcasmo é como Ginja sem ginja.
Levaste-os na proa.
Os corpos nus a combater o fogo é altamente erótico e sugere espancamento com folhagens.