18 de outubro de 2008

uma visão limitada da arte

A TSF tem à sexta-feira um programa de humor/informação chamado Governo Sombra. Moderado por Carlos Vaz Marques e com Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares. Já o tenho ouvido e tem os seus momentos. Bons no essencial, pois distrai e ajuda com boa disposição a recordarmo-nos dos principais temas da semana.
Na parte final do programa cada um destes artistas é convidado a decretar algo para a semana vindoura e, ontem, entre os decretos de tácticas de futebol e política económica, João Miguel Tavares decreta música portuguesa, nomeadamente o concerto de Deolinda na Aula Magna.
Embora não aprecie, não vejo mal no decreto, pois considero que mal nenhum faz incentivar o que por cá se faz bem feito. Não é original, nem tem metade de todas as virtudes que lhe apontam. É simplesmente um projecto bem conseguido e sobretudo bem vendido de música popular portuguesa, independentemente de todos os rótulos que lhe queiram colar.
O que motiva este texto não é, porém, a qualidade desta Deolinda. É antes a frase utilizada por João Miguel Tavares, classificando-os como uma banda genuinamente portuguesa. Passo a citar: «é música portuguesa mesmo, porque há aqueles músicos que se exprimem naquela língua que eu falo todos os dias que é o inglês, que são a maior parte deles.» Este é daqueles argumentos que só resulta pela insistência. Como é dito tantas vezes pode ser que se torne verdade.
Cada um gosta do que quer e é livre de escolher o que ouve. Quem se revê exclusivamente no que é escrito em português faça favor de apenas isso ouvir. Mas este é daqueles argumentos que esquece toda a envolvência de quem cria música. Estilos existem vários e nem tudo resulta na língua de Camões. Tal como o Fado não resulta na língua de Shakespeare. Mozart, por esta lógica, também nunca deveria ter escrito óperas em italiano.
O que aqui estou a afirmar aplica-se igualmente ao humor. E talvez para mentes iluminadas como esta se torne mais claro o que quero dizer. Uma das minhas piadas favoritas dos Monty Python é a seguinte:
«-American beer is a little bit like making love in a canoe!
- Making love in a canoe!?!
- Yes, it’s fucking close to water!»
Claro que podem dizer que esta não resulta e que o segredo está em escrever de forma a que resulte na própria língua. A verdade é que a piada torna-se diferente, já não pode ser comparada. E na música há estilos que pura e simplesmente não resultam na nossa língua. Digam o que disserem. E está na altura de acabar com este provincianismo. O que é nacional e que nos orgulha tem de ser visto pela qualidade, em todos os campos incluindo o artístico. Independentemente da língua de expressão.

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