15 de junho de 2009

está bem, come só as batatas

Este é o tipo de artigo que não interessa ao menino Jesus. Porém, e por alguma razão estranha que não consigo identificar, o Público sentiu-se compelido a publicá-lo e reparem que as duas jornalistas deram-se ao trabalho de enumerar um roteiro de actividades para os pais estoirarem dinheiro na obsessiva procura de controlar todos os minutos da vida das crianças.
Esta gente ensandeceu e nem percebe o ridículo de tudo isto. Ao ler textos destes pergunto-me como conseguiram os meus pais educar-me, como sobrevivi a verões com férias de meio de Junho a meio de Outubro e férias de Natal e da Páscoa de três semanas. É extraordinário.
É evidente que ao ler os comentários dos ávidos leitores desta verborreia compreende-se o seu objectivo maior. E o Público explora este filão brilhantemente.

«Não entendo porque o n.º de dias de férias dos professores ultrapassa os 80/ano. O estado, o que tem de fazer, é publicar através de lei a obrigatoriedade de só se poder ter filhos quando pelo menos um dos pais for professor, senão não se consegue. Veja-mos, a minha esposa e eu temos 25 dias cada, os dois 50, se não temos por perto familia nem amigos a quem os deixar o que fazemos nos restantes 30!!!! isso se o casal nao coincidir nenhum dia de férias!!!!»

E pronto. Objectivo cumprido. É isto que o povo gosta e é isto que o povo conhece. Não importa nada se é absoluta mentira, apenas importa ser dito e repetido até se tornar verdade. E este é só um dos exemplos da mais profunda ignorância e mesquinhez.
Já tinha falado neste post de outra campanha deste tipo. Repetida todos os anos, tal como esta. Não sei a quem interessa, mas sei que nada interessa aos intervenientes. No caso concreto que hoje vos apresento os próprios miúdos. O que eu vejo é que eles mal respiram. O percurso diário é casa - sala de aula – casa (sim, disse bem, sala de aula). Ver a luz do dia apenas se for programado, não vá algum mal acontecer-lhes. Seria útil alguém preocupar-se em compreender esta realidade, pois esta necessidade de controlo permanente um dia vai virar-se contra esta gente. Pois vai.

2 comentários:

Anónimo disse...

não compreendo o tipo de comentário que faz ao artigo. se não se recorda como eram as suas férias, deviam ser muito semelhantes às minhas: com avós para tomar conta das crianças ou os seus pais passavam os quatro meses de férias consigo?! O problema é que os pais, hoje, só se estiverem desempregados é que poderão passar dois meses e meio de férias com as crianças ou então desdobram-se para conseguir estar a maior parte do tempo com eles. Sem avós por perto ou com avós a trabalhar, a solução passa por respostas que a própria sociedade tem dado: actividades e mais actividades. Não são o melhor para os miúdos, já sabemos, mas é o possível, enquanto os pais não exigirem mais. BW

jorgefm disse...

«Os pais, hoje,» têm sensivelmente os mesmos problemas que os meus tinham e também trabalhavam os dois. Mais até, pois como referi as férias estendiam-se por um período bem alargado. Talvez por isso fui educado desde cedo a ficar sozinho. Ou em casa de amigos. Ou com os avós. Sem dramas e questões. Jogava à bola, corria, andava de bicicleta, caía, esfolava-me e, no entanto, sobrevivi. E tudo isto em Lisboa, pois não tinha casa «lá na terra». Os perigos existiam, estavam todos lá. O único perigo que não existia era o dos meus pais me tratarem como um bébézinho, frágil, “handle with care” até à faculdade. Este é que é o verdadeiro terror que devia fazer tremer os pais. O que gostava é que desenvolvesse o que quer dizer com «enquanto os pais não exigirem mais», pois afinal parece-me que entendeu bem a crítica que fiz.