25 de junho de 2009

info-excluídos

Ontem os arautos do plano tecnológico divertiram-se a divulgar no twitter um artigo de um especialista em tecnologia. O senhor considera Portugal como o “líder mundial a repensar a educação.” Por si só isto deveria arrumar o assunto, mas não, pois a Lusa, cumprindo a agenda, lá divulgou o artigo. Sinceramente acho escusado dizer que o senhor não conhece o ensino que por cá se pratica. As descrições que faz, tão elogiosas, relembram-me aquelas experiências usadas por alguns psicólogos para exemplificar a importância de métodos de ensino alternativos e que eram realizadas em grupos controlados com poucos alunos e normalmente escolhidos a rigor. A escola pública, obviamente, não é nada disso.
Não duvido que aquilo a que assistiu o tenha encantado. Basta-me ver os ensaios propagandísticos da distribuição do Magalhães para perceber a que se refere. E como o mundo seria perfeito se os problemas se resolvessem com a distribuição de uma ferramenta. O que certamente não reparou foi no trabalho que estava a ser realizado. Não se apercebeu das fragilidades do nosso sistema de ensino. E certamente nada conhece da forma como tais mudanças estão a ser implementadas. E sem isso a avaliação que faz é de todo inútil.
É evidente que outra coisa não seria de esperar num perito em tecnologia. Ponto deveras importante, aliás. Ontem bem quiseram secundarizar esta questão, mas a verdade é que é no mínimo estranho que se sinta tão à vontade para avaliar reformas educativas. É especialista em muita coisa, porém o que de educação percebe é muito pouco. E duvido sinceramente que tenha conhecido algo mais do que aquilo que queriam que conhecesse.
E tem de haver alguma seriedade na análise destas questões. O mundo não existe só a duas cores. Os tons de cinzento estão todos lá, por vezes bem para além da nossa percepção. Criticar o Magalhães não é criticar a introdução de novas tecnologias. É criticar a agenda, o alheamento da realidade e a pertinência da medida. Já aqui o disse. A tecnologia é fantástica e uso-a diariamente. Mas as escolas têm problemas mais sérios para resolver e as prioridades têm de ser estabelecidas. O Magalhães não pode ser um corrector ortográfico ou uma máquina de calcular e muito menos pode servir uma agenda política. Isto significa que vejo com maus olhos a introdução do computador? Não e não é essa a questão. Esse é apenas o hábito de analisarem os problemas a laia do Prós e Contras. Útil para o silogismo fácil, inútil para a resolução das questões.
O extraordinário é que os tais que se regozijaram com o artigo também nada percebem de educação. Mas têm convictas opiniões sobre o que deve ser feito e sobre os culpados do que está mal. Os professores evidentemente. É pena que assim pensem. É sobretudo uma grande pena que as mudanças que tanto apregoam só possam ser implementadas com a colaboração daqueles que assumida ou envergonhadamente desprezam.
Em suma.
As tecnologias são importantes? Sem dúvida.
A sua introdução nas escolas revoluciona o ensino? Sim, se for bem feito. E não estamos nem lá perto.
Os professores podem ser ignorados no processo? Evidentemente que não, sob pena de uma ferramenta útil se transformar num objecto inútil.
As escolas portuguesas têm problemas mais urgentes para resolver? Sim, só não vê quem não quer. E chega a ser chocante ter quadros interactivos em todas as salas, computadores para todos os alunos, mas não ter uma extensão para os ligar.
E respondendo a vários dislates que ontem foram ditos e juízos de valor sobre o trabalho de quem não conhecem: valorizo muito a escola inclusiva, o acesso livre às tecnologias, mas antes ter no futuro vários “info-excluídos” do que vários “info-estúpidos”. É que a info-exclusão soluciona-se.

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