30 de janeiro de 2009

de que pudor se fala?

Os comentários e os artigos pró e contra sucedem-se. Sem critério, como em tantas outras ocasiões sucedeu. Os que já tiveram certezas sobre Carlos Cruz e que idolatraram o caso Esmeralda ou McCann estão nas sete quintas. A democracia o permite e pelos vistos até há quem disto faça profissão. É precisamente por isto que hoje não vou usar o tom jocoso dos últimos dias e vou procurar assumir uma posição mais séria. Nem vale a pena, bem sei, mas a consciência a isso obriga.

Este processo Freeport é uma vergonha, disso não duvido. Que a «estória» está muito mal contada parece-me evidente. Que daí se devem tirar consequências políticas também acho claro. Agora defender de forma inequívoca a prévia condenação ou absolvição do primeiro ministro parece-me um disparate. Se realmente algum crime foi cometido, a justiça terá muito tempo para actuar, ainda que esse calendário não favoreça interesses eleitorais. E esses não são chamados para a análise judicial. Mal seria se assim fosse. É por isso que tanta dificuldade tenho em encaixar as teorias da conspiração e os veementes repúdios, gritados bem alto pelo PS.

«Quem com ferros mata, com ferros morre!», assim reza a sabedoria popular. O senhor primeiro ministro durante os últimos anos serviu-se da comunicação social e várias vezes recorreu à deturpação e à insídia que agora elegantemente aponta em sua defesa. Sobretudo no combate que travou com a oposição e muito particularmente nas suas intervenções parlamentares (que não tenho coragem de chamar debates). Ainda na sua última deslocação ao parlamento o fez, quando confrontado com o relatório tipo OCDE.

Talvez por isso a posição de desconfiança que assume perante a comunicação social seja agora inaceitável. E esta não pode ser a base de defesa de um primeiro ministro. Realmente é lamentável que esteja o seu nome envolvido neste processo, mas a verdade é que está. E o que é grave e merece ponderação é a razão pela qual temos hoje muita dificuldade em acreditar na sua palavra.

Não me custa nada acreditar na inocência de Sócrates. E o facto de não apreciar (nada mesmo) o seu estilo e a sua governação não me leva a tirar conclusões precipitadas. Não sobre a sua implicação num ilícito criminal. Tenho sim uma opinião sobre a postura moral que adoptou, mas essa não constitui qualquer crime. Retira-lhe credibilidade e enfraquece-o, nada mais. Quanto ao resto serenamente espero.

Só escrevo este texto porque começo a estar farto de uma corrente que quer impor pudor no tratamento desta questão. O único pudor que se exige é nas conclusões precoces que se retiram. Não se devem tirar em nenhum caso. Nem relativamente ao primeiro ministro. Criminalmente, reafirmo. Agora não queiram suspender a informação, nem tratá-la como se ela fosse irrelevante ou parte de um desígnio maior. Por muito que desagrade ao PS. Ou perturbe a sua marcha triunfal.

what fucking Ian guy?!


Assim é também o meu universo paralelo...

28 de janeiro de 2009

e esta, hein?!

Ai meu Deus! Querem ver que o mundo ainda vai acabar. Isto já só dá para rir...

cry wolf

É preciso ter lata! Mas é por estas que se calhar depois não vale a pena clamar inocência. A técnica é velha... o primeiro anúncio é o que todos lêem, o que vem depois não importa. Todos ouvimos na 2ª Feira como foi anunciado o tal relatório tão elogioso sobre o primeiro ciclo. E o próprio primeiro-ministro o reforçou no seu comício, perdão, intervenção. Afinal a OCDE nada tem a ver com o relatório e ele (relatório) foi elaborado tão somente na base nos dados fornecidos pelo ministério. Muito credível, portanto. Eu volto a perguntar: porque foi Santana Lopes demitido? Alguém se lembra?

27 de janeiro de 2009

tonight

Recebi hoje o novo álbum dos Franz Ferdinand. Viva a Fnac online que nos permite usufruir de tal privilégio, mesmo com uma carraspana em cima. Já tinha ouvido o single de lançamento. Aliás, quase já cansa de tanto passar na Radar. 
Logo pela manhã, lá coloquei o «bicho» no leitor apropriado. O que me ocorreu de imediato (ou melhor, passada a primeira música já conhecida) é que continuam iguais a si próprios. Músicas poderosas, catchy tunes, todo o embrulho prometido. Muito bem acompanhado de poderosos sintetizadores, com sons absolutamente retro.
O segundo cd desta edição também merece uma palavrinha. Apelida-se de Tonight Dub Version. É um estilo que nada me atrai, mas confesso que até surpreendeu. E já estou a ver a quantidade de vezes que as vou ouvir no Incógnito, por isso mais vale ir preparado.
Resumindo, Tonight é Franz Ferdinad na sua essência. Já não surpreende como o primeiro, mas está tudo lá. Quem aprecia dificilmente poderia esperar melhor.


Franz Ferdinand - Ulysses

could you hear me one more time?


Richard Swift - Lovely Night 

26 de janeiro de 2009

manobras de diversão

A entrevista que acabei de ver do ministro Pedro Silva Pereira é esclarecedora. Das intenções de persistir na tese da cabala e na vitimização. Lá virão mais uma vez criticar o jornalista por não ter deixado o pobre e bem intencionado serviçal responder, mas caramba... o que se pode fazer a quem evita todas as perguntas. E aquela tentativa patética de separar as datas da alteração da ZPE com o licenciamento só serviu para lançar mais suspeitas. É óbvio que a data de publicação da alteração é diferente e é claro que não é essa data que importa. O que importa é a aprovação no Conselho de Ministros, quando é de facto tomada a decisão. E essa é coincidente.
O mais espantoso é verificar o total embaraço perante aquelas relações familiares/empresariais/ministreriais. Se há algo que não tenho dúvidas é que em Portugal tudo funciona com aquele tipo de favores e apadrinhamentos. Não vale a pena negar. Se não é crime, é no mínimo moralmente reprovável. E ao contrário do que muitos pensam, tais favores ainda são mais significativos quando abandonamos Lisboa. Aí a promiscuidade é total.
Em conclusão, tudo o que foi dito em nada melhora a imagem do nosso primeiro. O que até surpreende, diga-se. Neste momento só uma fé inexplicável pode sustentar a crença em José Sócrates.

and I feel so proud


The Mountain Goats – Heretic Pride

25 de janeiro de 2009

nós por cá

Este caso Freeport veio baralhar a convicção de alguns. Sobretudo porque ainda existe quem acredite na bondade exalada da propaganda e nas confissões humanas do nosso primeiro, agora consciente da falibilidade das relações familiares.

Já aqui classifiquei este caso como um nojo. E é, de facto. Mas tal não significa que pretenda a demissão do governo ou a intervenção magnânima do nosso presidente. Este caso deve correr normalmente na justiça, porque de um crime se trata. No tempo devido, com a celeridade do costume.

O julgamento que se exige nada tem que ver com a justiça. Justifica-se exclusivamente no campo político e deve-se em particular ao somatório de processos duvidosos que envolvem José Sócrates. Neste particular momento acreditar na sua total inocência é um mero acto de fé e este «zezinho» não é Jesus Cristo, embora nos queira fazer crer que sofre das suas chagas.

Este PS deve levar o seu mandato até ao fim. E a questão que se colocará então é se já percebemos o engodo do governo forte e de fiéis princípios. Sócrates confunde autoridade com autoritarismo e moralmente mostra-se incapaz de guiar um rebanho de cabras. E o mesmo se pode dizer do PS. Um partido que se indignou com os disparates de Santana Lopes e que criticava a inflexibilidade da maioria absoluta de Cavaco. Afinal o que fizeram de diferente para justificar a fé que agora exigem?

A pergunta que mais oiço é sobre que alternativas existem. A ela respondo sempre que pouco importa. Da direita à esquerda existem diversas alternativas. O que era necessário era que por cá se percebesse que a democracia já está garantida há umas décadas e que votar só pelo medo da mudança é uma perfeita estupidez. Além do mais estou convicto que é preciso acabar com este ciclo, em que se quer fazer crer que só uma maioria absoluta é eficaz. Quando não existe exigem-se entendimentos e quem não é capaz de os fazer não tem lugar na democracia. Esta era a mensagem que devíamos  transmitir aos nossos políticos, para que de uma vez por todas percebessem que têm de trabalhar para nós e não na defesa dos seus particulares interesses. E estes, como reparamos diariamente, é que os ocupam e que nos mantêm na grande porca.

indicações que nos levam no bom caminho

Foi o jorge c. que me levou a descobrir esta fantástica versão. Aqui fica como singela homenagem às comemorações aniversariantes do seu blog. Bem haja!


Pearl Jam - You've Got To Hide Your Love Away

24 de janeiro de 2009

viva a solidariedade!

Olha um tiozinho barato! Primozinho a preço de saldo! Cinco melreis cada. São um mimo. Por atacado só 7 melreis! Até dão prendas do Natal. São produto de qualidade, directo da beira socretina. Região demarcada! Olha a familiazinha barata!

Noutro tempo estariam como a Mary, Queen of the Scots... Nem saberiam onde tinham a cabeça!

23 de janeiro de 2009

if you tolerate this...

Tudo isto parece um nojo. E isto ainda ajuda à festa. Num país digno seria o fim da carreira de qualquer político. A admissão feita revela toda a podridão da política portuguesa. De nada vale mostrar repúdio, pois quem cargos públicos de responsabilidade ocupa não pode alegar desconhecimento ou «alzheimer cirúrgico» para o que convém. Pode até não ser passível de acusação criminal, mas a imoralidade é total e absoluta. E para esse julgamento não são precisos tribunais.

a farsa

Mais do mesmo. Indiferente ao clima das escolas, o PS insistiu no quero posso e mando. E para quê? O desprestígio da Assembleia aqui reside. Não há coerência nas votações, nem se discutem os projectos. Não se discutem os seus méritos e deméritos.

Mesmo aos que criticam os professores, pergunto: era este projecto do CDS-PP um mau projecto? Eu sei responder porque o li. A proposta era boa, aceite pela esmagadora maioria dos professores e previa uma avaliação para o presente ano lectivo igual à do ano transacto. E não se esqueçam que o governo já elogiou diversas vezes o modelo aplicado no passado ano.

Agora que oiço as declarações de vitória do cão-de-fila e o seu elogio à coragem dos tão pressionados deputados socretinos, sei que realmente não importa nada do que está a acontecer. O que importa é o controlo e não me esqueço que ouvi ontem um deputado socialista referir-se aos mails recebidos dos professores como desprezíveis.  Até o podem ser e estou certo que alguns serão mesmo, mas não deve ser esta a postura de um deputado da nação.

O processo continua suspenso em centenas de escolas e, mesmo que avance, ele é já uma farsa. E se duvidam por favor leiam este simplex. É um exercício de estupidez, é verdade, mas assim é o modelo.

22 de janeiro de 2009

a cabra

Estreia em breve um filme que recupera a dupla Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Revolutionary Road de seu nome. Não sei se será bom, nada li sobre ele, mas aparentemente é um dos filmes badalados para os óscares, seja lá o que for que isso significa.
A única questão que coloco e que me atormenta o espírito é se, no final, a cabra também vai querer a porta só para ela. É que aquilo foi uma grande canalhice. Qual cena de amor qual quê! 

a que cheiram as coisas que não cheiram?

Desde já digo que acredito que tudo isto dê em nada. Só volto a referir esta notícia porque é chocante o silêncio que a envolve. Não é aceitável que não esteja na ordem do dia. E é só!

design for life

Libraries gave us power
Then work came and made us free
But what price now for a shallow piece of dignity

I wish I had a bottle
Right here in my dirty face to wear the scars
To show from where I came

We don’t talk about love we only want to get drunk
And we are not allowed to spend
As we are told that this is the end

A design for life


Manic Street Preachers

21 de janeiro de 2009

wannabes

Irrita-me a subserviência. Irrita-me sobretudo que não seja assumida. Não há pior na natureza humana do que a incapacidade de assumir uma posição. Independente, sem desculpas e tão simples como coerente. Não se pode querer o melhor de dois mundos. Não se pode criticar sem agir. Não se pode gritar pela mudança sem depois honrar a «razão» de tal grito.

Hoje assisti a uma reunião onde se revelou toda a hipocrisia dos que primeiro assumiram a luta a este modelo de avaliação. Na escola onde trabalho, claro. Os titulares ou «wannabes», os que afinal este governo tanto privilega, são os que agora abandonam, os que se escusam a tomar posição alegando o medo das ameaças. Mas o insólito é a revelação que este modelo os enoja. Enoja-os, mas afinal com ele vão colaborar.

É por pessoas destas que a educação está uma miséria. É por muitos invertebrados, que só têm coragem escondidos na segurança da sua total inépcia. Relembro que são estes que o ministério colocou nos lugares de chefia. Felizmente ainda há quem tenha princípios e isto não se generaliza à totalidade das escolas. Mas mal está quem acha que nesta gente reside a mudança no ensino.

must be a devil between us


Pixies - Hey

19 de janeiro de 2009

bye, bye

és o maior!

Já afirmei que este simplex não resolve nada pelo simples facto de ser provisório. Por cá, pelo menos quem está de boa fé, reconhece que este modelo de avaliação é impraticável. Não simplificado, mas na versão original que apenas está suspensa. Ele agora é um simulacro de avaliação. E perante um governo que não negoceia (apesar do muito que se esforça por mostrar o contrário) acredito que já não existe grande salvação para esta discussão.

Não resisto é a referir esta notícia. Nem queria acreditar. Ela é excelente para mostrar como este país é hipócrita. Quando se decidiu tal coisa na Madeira o que não se escreveu. E agora, ninguém abre a boca? Não será certamente por este governo regional ser socialista? Não posso crer...

Já sei... o governo é bom. Muito, muito bom

dá-lhe Alice!

“Aconteceu uma coisa terrível na Educação: tudo tem de ser divertido, nada pode dar trabalho.”

um só que fosse

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.


Miguel Torga

18 de janeiro de 2009

de indignar

Há uma grande vontade de "chutar" esta notícia para o lado, fingir que nada é de importante e, sobretudo, confundir a opinião pública com um outro ministro, que os boatos sobre este são todos mentirosos. Já vi esta história antes. 
O que todos deviamos estar intrigados é com o silêncio ensurdecedor da esmagadora maioria da comunicação social perante tão graves acusações. Noutro país não se falaria de outra coisa até se obter a confirmação de tal notícia. Por cá já passámos para outra, bem mais importante e ideal para distrair atenções. E lá vamos levar logo com os pseudo-analistas, que mais uma vez nos vão explicar como é tão prosaico este nosso primeiro.

at the edge

And I'm running at the edge of their world
They're criticising something they just can't understand
Living on the edge of their town
And I won't be shot down


Stiff Little Fingers

17 de janeiro de 2009

white winter hymnal

É só o que me apetece ouvir por hoje. Descontrair um bocadinho que a semana que aí vem não augura nada de bom.

I was following the pack 
all swallowed in their coats 
with scarves of red tied ’round their throats 
to keep their little heads 
from fallin’ in the snow 



Fleet Foxes

de espantar

Podem dizer-me que as situações não são similares. Que não podemos comparar realidades. O que estranho é que o façamos sempre que convêm a qualquer político nacional. Seja como for, é por causa de previsões destas que me custa a acreditar no que ontem nos foi apresentado. E alguém se interessa verdadeiramente em discutir a gravidade dos números, ainda que pareçam excessivamente optimistas? Claro que não, afinal com os cortes nas taxas de juro e a descida dos combustíveis até vamos viver melhor. Só convém é não perder o emprego.

16 de janeiro de 2009

idiots



"The idiot does provide a vital psychosocial service for this community."

reflectindo IV

Todo este simplex 2 é engraçado. Até seria exequível se não estivesse carregado de má fé. E o que o governo pretende é que os professores dêem um salto de fé. Apliquem agora, que nós mudamos o resto depois das eleições. Mais uma vez até seria possível... se não nos tivessem achincalhado durante os últimos quatro anos. Se, na primeira vez que impuseram uma divisão na carreira, não tivessem privilegiado o... carreirismo. É por isto que esta ministra é parte do problema e não parte da solução. E as ameaças só reforçam a desconfiança.
Claro que há sempre os que acreditam. Muito bem retratados no post acima a partir do minuto quatro. Ora revejam lá...

15 de janeiro de 2009

reflectindo III

Apesar da intimidação (que encheria de orgulho qualquer regime ditatorial de esquerda ou direita, que aqui não faço distinções), mantenho-me impressionado com a resistência cada vez mais visível nas escolas portuguesas. E ainda espero que, aqueles que agora receiam, percebam que não há outra alternativa senão esta. Porque esta posição é a única capaz de garantir a dignidade da profissão. Contra tudo e contra todos. Podem acincalhar-nos, insultar-nos, mas ceder no único momento em que estamos unidos é rendermo-nos à prepotência de quem não ouve e não quer saber.

I'm Throwing My Arms Around Paris

Digam o que disserem, este homem é um senhor. Que venha o novo álbum!


Morrisey

14 de janeiro de 2009

a handshake of carbon monoxide

You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for u
s

reflectindo II

A reflexão de ontem arrastou-se para hoje. Em forma de reunião improvisada, para que ninguém se comprometa. As ameaças, como se previa, assustam muita gente. E estão a subir de tom. 
A divisão instalou-se. Não porque as pessoas não acreditem na justiça da luta, mas simplesmente porque receiam as consequências. Presumo que sempre assim tenha sido, que nada se tenha conquistado de outra forma. O que difere é que já são poucos os que conseguem abdicar do imediato, tão bem instalados que estão nas suas mordomias.
É o país em que vivemos. Sem espinha e sem vergonha. O servilismo por cá parece genético.

13 de janeiro de 2009

I don't have to sell my soul


Ian Brown - I wanna be adored

reflectindo

Esperei uns dias para digerir o simplex da avaliação. Esperei pela reflexão que hoje se pedia. Esperei pela reunião marcada na escola onde trabalho.

É com tristeza que reparo que tudo está praticamente na mesma. O que foi aprovado foi um adiamento, uma forma encapotada de manter o modelo. Nada de substantivo se alterou, apenas se adiou a implementação daquele «monstro» para um futuro pós-eleitoral.

Claro que a máquina de propaganda já todos convenceu. O ressabiamento de alguns introduz mesmo uma completa cegueira no que à classe diz respeito. A questão que agora se coloca é como devem os professores agir perante o que foi proposto. Devem acatar? Ceder às constantes ameaças vindas da 5 de Outubro? Manter a luta? E se sim, em que moldes? 

Obviamente que reconheço a dificuldade de manter esta luta. Sei, e sinto na pele, o custo desta cruzada. E, acreditem, o cansaço já se instalou há muito. É difícil continuar a explicar a quem se recusa a ouvir e é difícil lutar contra esta máquina socialista, que tudo controla e manipula. Estou mesmo convicto que se as ameaças proferidas pelo secretário de estado fossem provenientes de um governo de direita já todos teriam gritado «Aqui d´el Rei!».

Reafirmo o que já aqui expus noutros momentos. Se alguma dignidade se pretende manter nesta profissão, este não é o momento para parar. O que agora aceitarmos terá consequências para o futuro e ceder quando nada de substancial se alterou retira qualquer credibilidade a uma luta futura.

Não vale a pena é continuar a explicar porque não queremos este modelo de avaliação. Nem vale a pena continuar a afirmar que queremos ser avaliados. É chover no molhado. Já foi dito e reafirmado. Quem não compreendeu até agora não vai nunca compreender. Apenas vale a pena explicar que o ensino só piorou nos últimos anos e que, apesar de toda a propaganda, as únicas verdadeiras melhorias são estatísticas.

Costuma dizer-se que todas as famílias têm um professor. Eu acredito que no momento actual todas têm alguém nas propaladas Novas Oportunidades. E estas são o exemplo máximo do laxismo da nossa educação. É por causa disto que os professores se revoltaram. É pelo fim da escola pública e de tudo o que ela representa. Sim, foi a avaliação que foi mediatizada. Mas, se forem honestos, todos sabem que não foi isso que motivou os primeiros protestos, nem sequer as grandes manifestações. Essa foi a gota que fez transbordar o copo. Todo o empolamento que foi dado à avaliação resultou de uma enorme manipulação, na qual colaboraram, diga-se, muitos professores. Por profunda estupidez, diga-se também.

A verdade é que a decisão agora tomada vai ficar na consciência de cada um. Participar ou não na greve, entregar ou não objectivos. Só queria relembrar que o ano passado crucificaram os professores os seus sindicatos por terem assinado um entendimento. A pergunta que coloco é esta: agora que os sindicatos foram firmes e nos defenderam vamos nós abandonar a luta?

12 de janeiro de 2009

oi!


Não resisti a roubar isto.


imagem - Antero Valério


É bom saber que, apesar de tudo, há quem ainda mantenha o seu sentido de humor.
Obrigado Antero!

monday, blue monday

O calçãozinho e a meia branca são para recordar. Não de ansiar por mais... mas para recordar.


New Order

11 de janeiro de 2009

para ajudar a digestão

Há uns anos li um livro de contos chamado Conversas com o Anjo, com edição e introdução de Nick Hornby. Do texto introdutório nunca me esqueci da citação que faz de uma entrevista de Bono sobre a sua participação numa campanha para reduzir a dívida do Terceiro Mundo ao Ocidente. «Isto é mais importante do que qualquer outra coisa com que venha a estar relacionado, por mais anos que eu viva. (...) Portanto, se posso abrir portas porque sou uma celebridade, usarei essa influência.» Os esforços tinham rendido até à data do texto 1000 milhões de dólares.

O número impressionou-me e reconheço que sempre olhei com admiração aquela faceta contestatária de Bono. Ao fim destes anos continuo impressionado com os esforços que continua a mover e acho admirável a sua fidelidade às causas que abraçou, em vez de pura e simplesmente gozar a sua reforma dourada.

A participação destas personagens em qualquer iniciativa pode obviamente ser questionada. Os interesses que os movem, os resultados práticos de tal participação, a validade das intervenções, etc., etc. A perspectiva de «abrir portas» parece-me, porém, interessante, quanto mais não seja para alertar consciências. Foi o que pensei quando ouvi este discurso de Brian Eno sobre o actual panorama na Faixa de Gaza. Nem sei se estou de acordo com tudo o que diz, mas pelo menos fez-me pensar. Houvera por cá celebridades destas!

para terminar o cerco

Decisões há que nos deviam fazer corar de vergonha. Vale a pena ler o que A Educação do Meu Umbigo tem para nos dizer sobre o assunto.

without you i´m nothing

Tem ou não David Bowie o toque de Midas?


Placebo and David Bowie

10 de janeiro de 2009

six feet under

Ando há muitos meses com vontade de rever Six Feet Under. Fiquei de tal forma preso às aventuras destes undertakers que até a minha relação com o cinema mudou.
Com tanta merda que repetem, não podiam lembrar-se de repor a melhor série alguma vez feita? Ou sou só eu que sinto esta nostalgia televisiva?

9 de janeiro de 2009

wake up

How can anyone not love them?


The Arcade Fire and David Bowie

I guess we’ll just have to adjust.

a avalição por cá

O Público tem disponível uma nova rubrica que pretende avaliar o comportamento dos nossos políticos nas suas intervenções de fundo. A primeira, como não podia deixar de ser, é para o nosso primeiro.

É evidente que a seriedade de tal trabalho é bem discutível, mas ainda assim não resisti à curiosidade e lá fui ver afinal como tinha sido avaliado o nosso Sócrates. A parangona informa-nos que nove vezes falou a verdade, que mentiu quatro vezes e é duvidoso o que afirmou em outras quatro. Conclui, portanto, o autor da peça jornalística que o PM passou no teste.

É engraçado como se chega a tal conclusão e ainda mais divertido observar como se espera tão pouco de quem chefia o país. Numa avaliação de 0 a 20 o resultado teria sido 10,6. E isto considerando simplesmente o critério estabelecido pelo jornal.

Já sei que se gosta muito destes simulacros, que nada importa analisar e se as verdades que são ditas para alguma coisa servem. O que denoto é que, mesmo sem avaliar a qualidade das respostas dadas, numa avaliação simples de honestidade o resultado é medíocre para quem tais responsabilidades tem. E, não resisto a dize-lo: se da tão propalada avaliação docente se tratasse, não poderia aceder à carreira. À de professor claro, que na política, aparentemente, qualquer um tem lugar.

8 de janeiro de 2009

Ó Ricardo, deixa lá isso!

Ora, eu não me dou com ninguém que tenha apontado uma arma de plástico a um professor, mas quase toda a gente que conheço já fez comentários desagradáveis, ou até insultuosos, sobre o primeiro-ministro.
in aeiou.visao.pt

a grande porcaria

Fiquei à espera para ver. Eu, qual Cândido, ainda espero sempre que se revele o melhor das pessoas. Ainda que esse melhor se pedisse a uns quantos deputados. 
Claro que a badalhoquice da política portuguesa ganha sempre. O que ontem era verdade hoje é mentira, as posições que se assumem só são válidas se não incomodar o lugarzinho nas listas para o mandato que vem. Nem a coerência os move.
Digo já que não gostava que esta questão tivesse acabado assim. Era uma saída demasiado fácil. A verdade é que a contestação continua e escolas há que já renovaram a intenção de não cumprir este modelo simplificado. Incluindo a agora célebre Infanta D. Maria.
Mais uma vez espero para ver. Mas suspeito que nada de bom se pode esperar quando um governo se move apenas pelos pedidos de sangue. O populismo é tramado e no fim do dia o que este povo gosta é de Autos-de-fé. Ainda que nada perceba do que se discute. 

the visitors


"Shut up, you silly bitch. It was only a bit of fun."

6 de janeiro de 2009

a grande porca

O tema causa-me algumas náuseas, por isso não me vou alongar. Se algo ficou ontem provado na entrevista do nosso Sócrates é que o paleio do primeiro ministro bem preparado é a maior falácia dos últimos anos. A qualquer pergunta mais incómoda nada saía daquela santola fora de época.
O que dá vontade de rir é aquela justificação para a renovação da maioria absoluta. Em nada se baseia a não ser na suposta estabilidade. Ridículo. Ou melhor, ao nível da reeleição de outro imbecil lá do outro lado do Atlântico. E que dissemos nós dos americanos então?

aleg(o)rias

É por causa de atitudes destas que desconfio das boas intenções de Alegre. Este Manel, que de vez em quando se gosta de afirmar diferente, parece em muitos momentos igual aos outros. Aqui só é preciso coerência. Outra atitude é pura politiquice. Não há desculpa que valha.

5 de janeiro de 2009

nem sei bem que dizer

Esta é a imagem de guerra que marcou a minha adolescência. Na altura não a percebia na sua plenitude. Mas nunca esqueci esta célebre frase:

 "I love the smell of napalm in the morning!".



Talvez por isso não consigo ficar indiferente a estas imagens. E ainda há quem queira justificar isto. A estupidez humana é, de facto, infindável.

2+2=5


Radiohead

4 de janeiro de 2009

flume

Nunca fui grande adepto de songwriters. Vou ouvindo um ou outro, mas usualmente sem grande insistência. Não é propriamente o que me move e não tem qualquer explicação especial.

O que é certo é que de vez em quando lá surge um que se destaca dos restantes e me relembra a beleza e a simplicidade deste tipo de música. Assim é com Bon Iver. Estou absolutamente fascinado com For Emma, Forever Ago. Digo-vos, é difícil encontrar melhor dentro do género. E este vídeo nem lhe faz justiça.

3 de janeiro de 2009

Paris

Realizadores há quem em determinados momentos conseguem chegar até nós sem dificuldade. Cedric Klapisch é, para mim, um desses casos. Obviamente conheci o seu trabalho como toda a gente, através da Residência Espanhola. Foi daqueles filmes que me encheu as medidas e que, desde então, já revi umas poucas vezes. Tal como as Bonecas Russas.
Quando descobri o seu mais recente filme, Paris, senti-me imediatamente compelido a comprá-lo e, claro está, foi servido no serão de ontem. 

Mais uma vez encheu-me as medidas. Filme simples, com histórias bem contadas e excelentes interpretações. E confirma a apetência especial de Klapisch para captivar a dinâmica de uma grande cidade e de quem nelas habita, com todas as suas expectativas, sonhos e contradições.

Outro «pormenor» nunca descurado é a música. Sempre de qualidade e excelente para enquadrar toda a história. Mais uma banda sonora a rever. 

2 de janeiro de 2009

somehow it got easy to laugh out loud


The Walkmen - We've been had

afinal alguém ouviu? (ou só viram o resumo com os lances mais importantes?)

Ontem, como muitos (?), ouvi a mensagem do nosso Presidente. Achei-a banal e previsível. Mas, e com toda a justiça, não creio que pudesse ter dito muito mais. Não me parece que fosse o momento.
Daí ter alguma dificuldade em perceber o que hoje se discute. Sobretudo se a discussão se centra no tom da mensagem ou o número de vezes que utilizou a palavra verdade ou crise. Querer daí tirar ilações é pouco mais credível que as previsões astrológicas do Dr. Zandinga. E quanto à questão dos recados ao governo... um Presidente, e esta é e sempre será a minha opinião, não deixa recados. Ou diz o que pensa ou opta pelo silêncio. E neste particular acho que Cavaco continua a guardar para si as suas opiniões. O que é uma pena. Para o bem e para o mal.