30 de janeiro de 2009

de que pudor se fala?

Os comentários e os artigos pró e contra sucedem-se. Sem critério, como em tantas outras ocasiões sucedeu. Os que já tiveram certezas sobre Carlos Cruz e que idolatraram o caso Esmeralda ou McCann estão nas sete quintas. A democracia o permite e pelos vistos até há quem disto faça profissão. É precisamente por isto que hoje não vou usar o tom jocoso dos últimos dias e vou procurar assumir uma posição mais séria. Nem vale a pena, bem sei, mas a consciência a isso obriga.

Este processo Freeport é uma vergonha, disso não duvido. Que a «estória» está muito mal contada parece-me evidente. Que daí se devem tirar consequências políticas também acho claro. Agora defender de forma inequívoca a prévia condenação ou absolvição do primeiro ministro parece-me um disparate. Se realmente algum crime foi cometido, a justiça terá muito tempo para actuar, ainda que esse calendário não favoreça interesses eleitorais. E esses não são chamados para a análise judicial. Mal seria se assim fosse. É por isso que tanta dificuldade tenho em encaixar as teorias da conspiração e os veementes repúdios, gritados bem alto pelo PS.

«Quem com ferros mata, com ferros morre!», assim reza a sabedoria popular. O senhor primeiro ministro durante os últimos anos serviu-se da comunicação social e várias vezes recorreu à deturpação e à insídia que agora elegantemente aponta em sua defesa. Sobretudo no combate que travou com a oposição e muito particularmente nas suas intervenções parlamentares (que não tenho coragem de chamar debates). Ainda na sua última deslocação ao parlamento o fez, quando confrontado com o relatório tipo OCDE.

Talvez por isso a posição de desconfiança que assume perante a comunicação social seja agora inaceitável. E esta não pode ser a base de defesa de um primeiro ministro. Realmente é lamentável que esteja o seu nome envolvido neste processo, mas a verdade é que está. E o que é grave e merece ponderação é a razão pela qual temos hoje muita dificuldade em acreditar na sua palavra.

Não me custa nada acreditar na inocência de Sócrates. E o facto de não apreciar (nada mesmo) o seu estilo e a sua governação não me leva a tirar conclusões precipitadas. Não sobre a sua implicação num ilícito criminal. Tenho sim uma opinião sobre a postura moral que adoptou, mas essa não constitui qualquer crime. Retira-lhe credibilidade e enfraquece-o, nada mais. Quanto ao resto serenamente espero.

Só escrevo este texto porque começo a estar farto de uma corrente que quer impor pudor no tratamento desta questão. O único pudor que se exige é nas conclusões precoces que se retiram. Não se devem tirar em nenhum caso. Nem relativamente ao primeiro ministro. Criminalmente, reafirmo. Agora não queiram suspender a informação, nem tratá-la como se ela fosse irrelevante ou parte de um desígnio maior. Por muito que desagrade ao PS. Ou perturbe a sua marcha triunfal.

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