Antes de ontem, 2ª Feira, assiti espantado à cobertura em directo de todos os telejornais, durante largos minutos (desisiti de ver as notícias por volta das 20:15), da recepção do Cristiano Ronaldo no estádio do Real Madrid.
Pelos vistos não fui o único. Mesmo que a opção da SIC e da TVI seja pouca, já na RTP começou a roçar o escandaloso. E hoje de manhã vi, em directo, o José Alberto Carvalho a ser ouvido na AR TV, justificando a desenfreada cobertura.
A comunicação social - pública ou privada - tem poder e influência no país e opinião pública, e deverá ser sempre alvo de análise de todos. Não concordo, contudo, que o director de informação da RTP seja chamado por isto e aquilo à Assembleia da República. Mas, no mínimo, isto mostrará a estranheza que causou a "notícia".
José Alberto Carvalho justificou-se com um "É futebol, e depois? Não é um português importante? Não devemos estar orgulhoso?". Já estou cansado de escrever neste post, mas cá vai: Sim, é, mas então e o resto? Não estaremos a dar, de novo e constantemente, um desmesurado destaque a tudo o que é Futebol, mesmo que tenhamos um português evidenciado no mesmo? Nem vale a pena falar mais deste argumento.
Ou tavez valha. Aqui há uns dias ouvi o provedor da rádio pública explicar que a Antena 1 e 3 não passa música Pimba, porque a função do serviço público deverá passar por transmitir o que é português, mas com um critério que passe fortemente por divulgar o que não tem o merecido destaque nos orgãos de comunicação privados, ou que não obedeçam a um critério de serviço público. Coitado do Futebol, se não fosse a RTP e a Antena1 a lembrarem-nos que ele existe, ninguém lhe ligava nenhuma.
Já para não dizer que o exemplo que Cristiano Ronaldo se tornou para os portugueses é o de um afortunado que representa uma agulha num palheiro. E não me parece positivo que se tenha como exemplo algo inantigível. Inantigível, não: ele conseguiu-o, porque não todos nós?
É claro que o Futebol e tudo o que o rodeia dão imenso jeito para desviar as atenções do que será mais pertinente e valorizável. Assim adormece-se um povo que vai sonhando com o euromilhões - cujo bolo é mais provável de ganhar que uma vida exemplar como a das vedetas do Futebol. Se não conseguirmos algo que nos transforme em excêntricos, vamos aguentando a falta de qualidade de vida, o não intervencionismo, a pobreza, o desrespeito ambiental, a desvalorização da cultura, os recibos verdes, o desordenamento do território, as negociatas e os silenciamentos. Vamos aguentando, porque a esperança na reviravolta milagrosa - ou com árduo trabalho de chutos na bola - será sempre a última a morrer. E vencer o euromilhões é como o sucesso no futebol, pode tocar a qualquer um - é preciso é saber jogar. (Ãh?!)
t.
2 comentários:
Note-se que a época futeblística em Espanha ainda não começou, o que significa que o pior ainda está para vir!
Falta a mega-reportagem quando for o primeiro jogo do Real e os mil visionamentos do primeiro toque de bola do CR, analisados sobre 45 ângulos diferentes, repetidos até à exaustão.
Faltam as primeiras páginas dos "exclusivos" com a primeira espanhola da era pós-Manchester que vai "cantar a Portuguesa" em pêlo.
Faltam os debates e análises dos comentadores da treta sobre a primeira lesão, o primeiro falhanço de baliza aberta, o primeiro cartão amarelo ou do primeiro mega-golo.
Faltam os directos com a D. Dolores, com a Ronalda e com o senhor que limpa a piscina onde um dia o CR deu uma mija.
Faltam os louvores, amores e rancores de amigas, namoradas, amantes e putas a quem o miúdo já fez a folha.
E mim (a nós?) falta-nos paciência para isto tudo!
Mais grave que a chatice, são as consequências.
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