As férias acabaram e, embora a vontade não seja muita, lá temos de começar a pensar em coisas sérias. Embora nada tenha escrito, fui espectador atento da silly season informativa deste Verão, que foi, sem dúvida, muito rica em estupidez e fraquíssima em qualidade. Atrevo-me mesmo a afirmar que qualidade só teve o assalto na A2 e o espantoso silêncio dos políticos, apenas manchado pelo invulgar e desapropriado comunicado do nosso Presidente. Essa infeliz intervenção (embora a razão lhe assista no conteúdo) só teve mesmo o mérito de colocar o país a sonhar com um novo ciclo político, pois este parece interminável.
Nos últimos meses, porém, de pouco mais se falou do que em criminalidade. Até o Público e o Diário de Notícias parecem ter-se transformado em Correios da Manhã encapotados. Não porque o fenómeno seja novo, ou sequer porque esteja a aumentar. Apenas porque nada mais aconteceu para alimentar os espaços informativos. Os «especialistas» (Moita Flores) comentaram os espantosos jackings, aos carros, casas, bancos, ourivesarias, multibancos, pastelarias e supermercados e concluíram que têm muito que concluir.
Claro que tanta notícia causa a impressão que o nosso governo agiu mal perante o fenómeno e que muito poderia (deveria) ter feito. Não partilho esta opinião. Mesmo correndo o risco de ser novamente vilipendiado, atrevo-me a dizer que o país raramente fica mal quando este governo não age. Quieto ao menos não agrava os problemas. O que agora estamos a testemunhar no capítulo da criminalidade não resulta da inacção, mas sim de toda uma política traçada há cerca de três anos e que só poderia resultar no que agora assistimos.
Não sou estúpido e bem sei que não foi só a acção deste governo que proporcionou estes acontecimentos. Volto a dizer que nem acredito que a criminalidade tenha aumentado. Mas é evidente que algo se agravou. E o principal é do que ninguém fala.
Esta legislatura começou com uma campanha tremenda contra os funcionários públicos, particularmente para com três das suas classes, aquelas que considero estarem mais ligadas a tudo o que está a acontecer. Os primeiros a serem descredibilizados foram os polícias, classificados como ineficazes e preguiçosos. A seguir partiu-se para o ataque aos juizes, essa «corja» que nada fazia e tinha muitas férias. O terceiro alvo foram, obviamente, os professores, inqualificáveis, pois como toda a gente sabe pensam em tudo menos em trabalhar.
Lembro-me de ter pensado quando estes ataques começaram que as consequências iriam sentir-se em breve. Passei mais uma vez por teimoso, por querer ver defeitos onde os outros só viam virtudes. A verdade é que o objectivo foi conseguido. A polícia, ninguém acredita nela. Os juizes são considerados os responsáveis pela ineficácia do sistema criminal. A escola para pouco serve e os professores nada ensinam.
Talvez por isso não estranhe a criminalidade que por cá se tem praticado. E se aos factores anteriormente citados juntar as condições cada vez mais difíceis em que as pessoas vivem e a gritante imagem de debilidade dada aquando da greve dos camionistas o ramalhete compõe-se. Afinal o que estavam à espera. Quando se diz repetidamente que as instituições não funcionam até os mais cépticos começam a acreditar. Os criminosos até se devem ter sentido mais confiantes. E a ideia que com trabalho se pode fugir às dificuldades não pega. A escola não dá essa imagem. E até o primeiro-ministro «encomendou» uma licenciatura.
Não quero ser demasiado pessimista, mas acredito que o que estamos a assistir ainda é só o início. Quanto mais não seja porque os disparates feitos nestes domínios demoram a ser corrigidos. E mal de nós se esta política se perpétua. Aí as consequências poderão ser bem mais graves. Foi sempre no meio das maiores crises sociais que as ditaduras ganharam terreno. E se nos fazem acreditar que não existem alternativas o caminho está aberto. Essa é a grande estratégia deste governo. Governar por defeito, como se não houvesse nada melhor.
Este assunto ainda vai fazer correr muita tinta. Vou continuar a fazer a minha vida normalmente sem entrar em histerias, muito comuns nestes momentos. Mas digo isto: gostava de poder andar em Lisboa em segurança e poder exibir o meu ipod como os muitos espanhóis que vi a passear em Madrid. Não por vaidade, apenas porque por cá a recomendação é para comprarmos uns headphones baratos, pois assim não atraímos os assaltantes. Não será este um sinal suficientemente claro de algo que está mal?
5 comentários:
talvez percebas à segunda, senão continuaremos... Abraço
És professor, mas deves achar que escreves e pensas melhor que muitos políticos, escritores ou artistas contemporâneos. Vanglorias-te sem o demonstrares, e até muito imperceptivelmente, mas não é por teres escolhido um caminho simples e humilde como o de ensinar (e que me merece todo o respeito) que demonstras o quão importante és nas pequenas acções deste mundo. Na verdade, os professores como tu são muito importantes. Provavelmente, és uma referência do caraças para um elevado número de putos que se revêem na tua inteligência, tal como muitos professores o foram para mim a vida toda, e ainda hoje não me esqueço deles. E nisso te gratifico muito sinceramente (não fosse isto mais uma opinião que não vais ouvir de bom grado).
Mas eu vejo a arrogância das tuas palavras, e o problema é que não és um gajo humilde. Achas que és, mas não és. E bastava-te sê-lo para seres o "blogger" que querias ser. Não te conheço, mas sigo o teu blog há muito tempo por auto-flagelo e consigo dizer-te que sei que sabes que falhaste na vida. Usas os putos que ensinas para te sentires alguém, mesmo que até gostes a sério de alguns, odeias o governo que te governa como toda a gente, mesmo que até saibas justificar bem as tuas razões ao contrário de outros 6 milhões de benfiquistas, e tens gostos musicais, artísticos, etc. e um gosto cultural versátil, e abrangentes. Tens mesmo uma instrução boa como civil e pessoa que és, mas no fundo gostavas de ter sido o Anarquista e Irreverente Baixista Sid Vicious, pois só assim serias falado por todo o mundo em blogs de gordos que se querem achar inteligentes todos os dias antes de dormir, mesmo que não tenham alcançado o reconhecimento na vida. Até podes gostar de todas as músicas dos anos 80 e bandas desconhecidas que "postas" aqui, mas não passam de um pretexto para dizeres a quem não as conhece que tu és melhor que eles. Gostas mesmo de muita coisa fixe, isso te garanto, mas gostas muito mais de gostar de muita coisa fixe.
Se és como escreves, então deve ser uma dádiva dos deuses ser teu amigo, aluno ou namorada. "O gajo sabe de calhau... Tenho orgulho nele", devem eles dizer.
Mas... Para ser sincero, se fosses como escreves, não escreverias num blog de merda que só gajos como eu lêem com frequência.
Se fosses como escreves, serias um político bem aclamado, um músico que marcou uma geração ou um filósofo - de Nobel às costas - dos tempos modernos (o tal dos últimos 50 anos que voltou a conseguir tornar um Ensaio filosófico num best-seller influente e respeitado).
(1: Por favor não salientes na tua resposta que sabes que isto é um blog de merda
2: Acredita que já viciei muitos amigos meus a rirem-se do quão idiota te acham por tão abençoado te achares)
Não te quero ofender, mas é impossível seres correspondente amigável dum gajo que te disse o que eu acabei de escrever, mesmo que bem dito estruturalmente, e com lógica nas interpretações. Assim sendo, simplifico-te as coisas, e lá poderás responder com um "lol" à Californication, ou com um aforismo redutor:
Vai lá comer as tuas batatas fritas preferidas enquanto vês séries de televisão viciantes, ouves músicas dos anos 80 que ninguém conhece, bater punhetas pelo espectacular o youporn, ou tentar ser um baixista de relevo... Meu miserável triste, solitário e no fundo infeliz.
"Au revoir",
Pedro Dionísio.
P.S - a última vez que comentei este blog foi no post do Californication "lol".
És ridículo! Já no teu comentário dos quadros interactivos tinha dito que só sabias reclamar do governo.
JÁ CHEGA! O governo não tem culpa da criminalidade em Portugal.
É uma questão de ética. O estado proíbe-me de roubar e se eu o faço é escolha minha.
É um facto irrefutável que o estado português não pune devidamente os criminosos mas se eu escolho cometer um crime a culpa é minha e de mais ninguém. Não é do Sócrates nem do governo.
Ass.: Miguel Sousa Cardoso
Engenheiro Civil, 37 anos. Parede.
Assim já não me podes acusar de me esconder no anonimato.
Caro Pedro,
O teu primeiro erro é julgares que tenho alguma pretensão como blogger, o que de facto não é o caso. Escrevo porque me apetece e não para agradar quem por aqui passa ou na esperança de um reconhecimento vago, que, de facto, só interessa a quem pouco mais têm de fazer do que perder tempo em frente a um computador. Volto é a dizer: felizmente tenho esta liberdade e em nada sou responsável pelos teus auto-flagelos.
Partes ainda de outros vários princípios errados, sendo o maior dos teus erros julgares que me conheces por causa deste blog. Isso por si só já seria motivo suficiente para te fazer pensar um pouco.
Sou professor sim, mas não uso os miúdos (e às vezes graúdos) para me glorificar, pois de mim eles pouco mais conhecem do que a personagem que lhes ensina História umas vezes por semana.
De facto humilde não sou, nem sei onde raio foste buscar a ideia de que tento ser. É só mais um gigantesco erro de quem mal me conhece. Agora não me submeter às opiniões dos outros não é arrogância, chama-se ter personalidade, conceito que certamente conheces. Tu vês arrogância porque queres ver, pois mais um vez te lembro que de mim pouco sabes. Sempre ouvi de resto que esse é daqueles sentimentos que está nos olhos de quem o quer ver.
Quanto à tua acepção de que eu gostaria de ter sido um Sid Vicious nem sei que te dizer. Talvez, e tão só, que já passei a adolescência há uns bons anos, que nem me revejo nessas personagens e que anarquista é aquilo que realmente não sou.
De resto algo mais posso acrescentar. Folgo em saber que aprecias os meus gostos musicais, mas publico-os sobretudo para os meus amigos e são de facto a imagem do que sou. Mais uma vez para o bem e para o mal. E os meus amigos nada me devem em conhecimentos (pois aí nada tenho para lhes ensinar, e não estou a ser humilde, estou a ser honesto) e estou certo que essa não é a qualidade que em mim apreciam.
Não sou culpado das tuas opiniões e muito menos das tuas inseguranças e gosto de coisas fixes e de gostar de coisas fixes. Que mal tem? Só o que lhe quiseres atribuir.
Deixo-te aqui uma sugestão que nem é original. Se não gostas do que escrevo e já formaste uma opinião tão convicta segue para outras paragens. Eu é que não tenho que continuar a aturar faltas de educação e baixo nível. Bem sei que ao escrever um blog a elas me sujeito, mas sinceramente não é preciso passares tanto tempo a pensar no que escrevo.
Respondo-te por um estranho sentido de cortesia, embora, como facilmente possas reconhecer, não o mereças.
Até sempre,
Jorge
Caro Miguel,
a ética também se ensina e esse é um dos aspectos que claramente tem falhado nos últimos 30 anos. Claro que o governo (como os vários antes deste) muita culpa têm no que está a acontecer e essa visão de cada um faz porque quer fazer é demasiado simplista, mas enfim... Cada um vê o que quer ver.
Jorge
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