Os últimos dias foram, em termos profissionais, importantes. Em primeiro lugar porque na escola onde trabalho votou-se pela suspensão deste modelo de avaliação. E percebam que é este modelo de avaliação. Depois porque surgiu a esperança de um entendimento entre os que marcaram duas manifestações de professores em Novembro: a 15 os movimentos de professores, a 8 os sindicatos.
A reunião entre estes grupos representantes decorreu no passado dia 29 e dela resultou um comunicado conjunto que, pensei eu, era o fumo branco necessário para a efectiva união desta classe. Ora para minha surpresa, e passadas menos de 48 horas, dois dos movimentos signatários roeram a corda e, afinal, o que era verdade no comunicado de entendimento passou a letra morta.
Independentemente de todas as razões que assistem (ou não) aos movimentos, a verdade é que ficámos todos a saber que quem fica a perder são os professores. Já sei que há para aí muitos que acham que duas manifestações têm mais impacto, que a segunda até terá a virtude de mostrar que os professores não estão com os sindicatos e, como tal, rejeitam qualquer acordo por eles assinado.
Se isto não fosse um assunto sério eu até me ria deste disparate. Disparate porque são os sindicatos que legalmente nos representam. Porque é com eles que o ministério negoceia. Porque são eles, para o mal e para o bem e até que se mude a lei, a imagem da classe.
Custa-me dize-lo, mas todos os que agora alinham com estes movimentos estão longe de perceber a consequência da divisão que estão a semear e se estivessem mais atentos tomariam atenção à força que esta atitude está a dar ao ministério e ao descrédito com que mais uma vez estamos a ser tratados na opinião pública.
Os que apelam a duas manifestações (ou só à de 15 como facilmente se pode ver nesta blogosfera) vão certamente medir «pilhinhas», contar «espingardas», cantar vitória pela adesão a uma ou outra manifestação. Esquecem-se é que a maior parte dos professores são como eu: desalinhados. De movimentos e sindicatos. Queremos é resolver os problemas que nos afectam e esses são comuns a todos, como rapidamente perceberiam se não estivessem tão preocupados em achincalhar os sindicatos.
O que todos deviam perceber é que para poderem criticar os sindicatos primeiro deviam ter-lhes dado a força que necessitavam. É muito giro falar dos 100 mil professores no dia 8 de Março. Mas onde estavam estes 100 mil quando as greves foram marcadas? Onde estavam quando deviam ter boicotado o concurso de titulares? Onde estavam quando os sindicatos estavam sobre fogo deste governo? Os dos professores e todos os outros. Onde estavam quando os sindicatos marcaram greve às substituições e aos exames? Aí só ouvi professores a inventar desculpas. Não faço porque isso prejudica os meninos. Não faço porque não concordo com a data. Não faço porque não gosto do azul. Tenham paciência! Queriam que os sindicatos fizessem mais, então tivessem estado na luta quando chamados foram.
Já ouvi por aí que apelar à unidade é castrar os professores do seu raciocínio livre. Eu só pergunto: qual foi a luta de trabalhadores que foi vencida sem unidade? Quando é que se conseguiram direitos sem união? E tenham juízo se acham que alguém na 5 de Outubro está preocupado com uma ou duas manifestações.
Não sou sindicalizado. Não sou alinhado. Não sou «movimentado». Não estou com nenhum partido. Percebo, porém, quando devo lutar e estar ao lado de quem nos representa. E neste momento quem se senta à mesa das negociações são os sindicatos. Posso não concordar com muitas das suas posições, mas pelo menos sei que este não é o momento de os fragilizar. Não pode ser agora. E quanto aos movimentos lamento que afinal demonstrem ser iguais aos que criticam. Com a mesma facilidade desprezam os interesses de quem dizem representar em nome de interesses próprios. E se prova era necessária basta verificar o apelo que agora fazem depois de terem chegado a um entendimento.
Eu não queria 8 nem 15. Queria uma data única. Ou pelo menos que as duas manifestações tivessem uma organização diferente como sensatamente ouvi propor. Uma nacional, outra local. Assim eu poderia compreender o seu significado.
Agora, e se tomasse a mesma posição dos muitos que nesta blogosfera se manifestam, faria birra. Diria que a nenhuma ia. Ou só a uma iria.
Eu sou professor. Eu apelo à união de todos. Eu às duas irei se necessário for. Mas pensem bem antes de tirar o tapete aos sindicatos e ao único movimento fiel à sua palavra, o Promova. Percebam a gravidade de boicotar a manifestação dos únicos que têm o poder de negociar. Não deixem a ministra a rir-se. Sejam dignos da profissão que desempenham e mostrem que a nossa luta é contra quem nos impõe estas políticas pedagógicas e esta intolerável situação profissional.
Para terminar gostava só de acrescentar isto. O mérito da suspensão da avaliação que está a ser proposta nas diversas escolas não se deve a qualquer movimento ou sindicato. Deve-se exclusivamente aos professores. E a maior parte são como eu: querem lá saber destas guerras e de quem as promove. Por isso não venham cá com bandeiras aproveitar-se de quem, de facto, se preocupa.
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