9 de novembro de 2008

manifestação

Espanto. Foi o que ontem senti ao participar na manifestação de professores. Espanto, porque, como muitos, não acreditava ser possível repetir a união de há oito meses, sobretudo com números ainda mais esmagadores. Números quase incompreensíveis se verificarmos a divulgação feita pela comunicação social na semana que passou. Nula ou quase nula.
É uma pena que, e mais uma vez, a voz de 80% de uma classe profissional esbarre no autismo profundo de uma ministra e de um governo que convive mal com a diferença de opinião. Mais grave ainda a constatação que envereda pela mentira e pela calúnia para desvalorizar a derrota de uma política educativa absurda e cada vez mais sem sentido.
Na entrevista que ontem deu à RTP, a dona Maria de Lurdes fez cinco afirmações que só podem ser interpretadas por pura má fé e manipulação da opinião pública. Afirmou ontem que os que se manifestaram não querem ser avaliados. Afirmou que não existe um modelo alternativo de avaliação. Afirmou que este modelo resultou de uma negociação. Afirmou que nenhuma escola suspendeu o modelo de avaliação. Afirmou que estes protestos foram manipulados politicamente.


Nada disto é dito sem medir as palavras. Nada disto é verdade. E este ministério sabe bem o que se está a passar nas escolas.
Ontem um jornalista perguntou-me o que diria à ministra se com ela pudesse falar. Respondi-lhe que apenas queria que nos ouvisse, que não é possível uma classe profissional inteira estar errada. Somos nós que temos de implementar toda esta política e sabemos bem as consequências do que foi feito nos últimos três anos. Todos os dias convivemos com este Estatuto da Carreira Docente, com o Estatuto do Aluno e agora somos nós que temos de implementar esta avaliação. E uma reacção corporativa nunca englobaria a totalidade de uma classe. Se assim fosse, e José Manuel Fernandes disse-o ontem, estaríamos na presença dos mais poderosos sindicatos do mundo. E todos sabemos que isto não é verdade.
Sempre tive consciência (creio que todos os que ontem lá estávamos tínhamos) que este governo não iria ceder. Que iria insistir no incompreensível e sacudir responsabilidades, tal como aconteceu. Até já esperava as afirmações hoje feitas pelo nosso primeiro ministro. Sócrates perguntou de forma habilidosa se é possível um sindicato assinar um entendimento e depois não o cumprir. Bem sei que nem vale a pena retorquir, mas será possível um governo ser eleito com um programa que não cumpre e manter-se em funções?


P.S.- Será que algum tolo acredita que 120 mil pessoas se manifestam porque têm medo de preencher um impresso. Tenham santa paciência!

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