6 de julho de 2008

Tóquio

Ontem, apesar de violentamente ter protestado (ah, ah!), arrastaram-me para o Tóquio. Para quem não conhece, acrescento que é uma daquelas discotecas decadentes situada no Cais do Sodré, paredes meias com outros bares e clubes de legalidade duvidosa.
Claro que ao lá entrarmos questionamo-nos se não nos enganámos na porta, ou, passado o choque, se não fomos transportados para o lado obscuro dos anos 80, aquele das gangas clarinhas e dos cabelos oxigenados. Por vezes parece que todo o público pertence aos Da Vinci, e que a qualquer momento vai começar a tocar o Conquistador. Lisboa está repleta de sítios destes que teimam em sobreviver e cuja decoração, pela persistência e falta de criatividade dos actuais designers, ainda voltará por certo a estar na moda. Se calhar até já está e, como é recorrente, eu é que me encontro fora dela. Será retro, ou vintage, ou qualquer outra coisa que se hão de lembrar e que tornará o espaço novamente apelativo.
A verdade é que este espaço, como o bem mais decadente Jamaica ali ao lado, está sempre cheio. Presumo que sobretudo pela música, que é como o algodão, não engana. Para ali se ser dj é necessário e fundamental ter ainda um leitor de cassetes e, sobretudo, não ter qualquer receio de misturar Meat Loaf com Nirvana, ou Heróis do Mar com David Bowie. É preciso um tipo de estupidez peculiar, normalmente associado a t-shirts foleiras, muito gel no cabelo e a unha do dedo mindino bem comprida. O espectáculo proporcionado, porém, é único. Toda a gente se diverte, nem que seja a gozar com quem consegue dançar algumas das relíquias que por ali se ouvem.
É evidente que vale a pena conhecer. Quanto mais não seja para voltarmos a colocar na perspectiva correcta os outros sítios que frequentamos (se no vosso caso forem todos assim, não se preocupem, embora a percepção de que se encontram numa crise de meia idade talvez ajude). Já aqui disse que para mim não há como o Incógnito e ontem momentos houve em que até nem me importaria de lá estar a ouvir os devaneios do Rai ou do Galopim. É verdade que lá não posso ouvir músicas como o Cuts you up ou divertir-me com o mosquito e a libído dos Nirvana. Mas é rara a noite em que não oiça algo novo, que me vai levar a descobrir outra banda ou simplesmente outra tendência da década em que vivo, em contraposição com o conceito M80. Claro que cada um diverte-se com o que entende. Eu continuo a preferir respirar um som com menos bafio. Ou mofo. Não, bafio!


P.S. – Já agora... embora compreenda que o conceito da zona é normalmente o homem pagar por qualquer serviço ali prestado, a cena discriminatória de apenas o sexo masculino ser taxado com 5 euros à entrada não colide com o tal conceito de paridade que tanto preocupa o mulherio? Só para saber...

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