Hoje, sem saber bem para quê, fui convocado para fazer uma vigilância na escola onde trabalho. Havia necessidade de recrutar três lacaios para, durante duas horas, tomar conta de um rapazinho que não realizou um exame de Oficina de Artes na 1ª fase. Se o menino tivesse trabalhado um pouquinho durante o ano nem exame faria, pois, acreditem, é daquelas disciplinas em que quase basta estar presente. Não tinha grande importância não fosse sintomático do estado do ensino segundo Maria de Lurdes Rodrigues. Se nada te esforças, se não apareces, se te estás nas tintas, não te preocupes!. Haverá sempre alguém para te dar as oportunidades que necessitares, mesmo que não as mereças.
Esclareço que nem me chateia muito nesta altura ter este serviço. Embora considere ridículo, a verdade é que é as férias começam mais tarde, por isso nada há a dizer. É uma tarefa estúpida, mas igual a tantas outras neste e noutros trabalhos, por isso... O que desmotiva é ver quem foi convocado para este serviço. Três contratados, três que para o ano não estarão na escola, três que não são tidos nem achados para nada a não ser para os serviços que ninguém quer fazer.
Já disse aqui que tive um ano de trabalho bem agradável com as turmas com quem trabalhei. Já assim tinha sido no ano anterior e, felizmente, em muitos outros anteriores. Embora não estivesse muito confiante confesso que cheguei a ter a expectativa que o trabalho positivo que desenvolvi fosse reconhecido. Nunca quis as alterações que foram introduzidas ao concurso de professores, que claramente favorecem a «cunha» e o compadrio. Este ano são vários os casos que conheço em que as escolas muito estão a fazer para manter os contratados. Nem seria um problema, se o critério adoptado fosse uniforme. Claro que com esta avaliação, e conforme se previa, isto não acontece. Na escola onde estou a nota máxima é o Bom, independentemente do trabalho que prestámos. Mais uma vez nenhum problema teria, se o critério fosse uniforme. Outras escolas, outros procedimentos. Ainda ninguém sabe o que isto significará para o futuro, se estas notas poderão ser utilizadas para favorecer a contratação de alguns professores. Espero que não, mas julgo que sim.
Fiquei a saber, aquando da entrevista de avaliação que realizei, que para ter uma nota superior a Bom teria de estar, por exemplo, a fazer um mestrado ou publicar textos científicos, ou ter feito muito mais do que o serviço que me foi entregue. O ridículo é evidente. Tive a nota máxima em todos os parâmetros de avaliação, mas apenas tive bom. Cumpri exemplarmente o serviço, não faltei, fiz actividades para a escola, estive presente sempre que de mim necessitaram e no fim o reconhecimento é zero. Nem sequer o facto de os alunos solicitarem a minha continuação vale. Aliás deste facto apenas tive conhecimento pelos alunos, pois a escola nada me disse. Mais uma vez sintomático do estado do ensino por cá. Qualquer pequena reclamação de um aluno ou encarregado de educação e um professor é imediatamente repreendido, ou sujeito a um procedimento disciplinar. Se em vez disso for entregue um louvor de nada serve e nem é relevante.
Quero voltar a manifestar que não concordo com qualquer desvirtuamento da lista de graduação. Por nenhuma razão, nem por cartas, nem por louvores. O que quero e sempre quis é que a lista seja respeitada. É o único critério de ordenação de professores que não tem factores aleatórios, que não facilita favorecimentos. Sinto é que cada escola vai proceder de forma diferente e que o que vai decidir a continuidade ou futuras contratações é simplesmente estar na escola certa no ano certo.
Todos os anos sinto isto e já estou farto. Tal como noutras ocasiões não vou continuar trabalho que comecei e vou, para muita pena minha, abandonar as turmas que comigo e por mim lutaram. Para mim não é novidade, estou é cada vez mais farto. Tenho 34 anos e 11 anos de serviço. Todos os anos precisam de mim e todos os anos sou contratado. Noutra qualquer profissão já teria alguma estabilidade profissional. Realmente... de todas as profissões que existem no mundo tinha de escolher uma das poucas piores que o ramo da prestação de serviços de satisfação pessoal. Quem acha que má sorte é ser puta, certamente nunca foi professor.
P.S. – Texto de fim de época, escrito enquanto suplente de uma prova. Só um desabafo, sem grande pretensão ou coerência, estou certo.
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