A notícia da manhã de hoje era o aumento das vagas para o ensino superior. Aparentemente há quem por aí considere que isto é uma boa notícia, particularmente porque esse número é sobretudo reflectido nas vagas dos Institutos Politécnicos. De acordo com o argumento corrente, este país precisa é de mais técnicos e de menos «doutores», de mais licenciaturas em ciência e tecnologia e menos em humanidades.
Bem sei que esta é a moda do momento. Até percebo, porque por isso passei, que se calhar de pouco vale enveredar por um curso de Letras. Mas atenção, só na perspectiva do mercado de trabalho. Só para quem considere que as Universidades são centros de emprego e esse é um pensamento perigoso.
A incoerência da notícia de hoje prendia-se, porém, com o número de vagas sem precedentes para o curso de Direito. Para se ser sério alguém diga por favor que é outro buraco, outro beco sem saída. A esmagadora maioria acabará no desemprego ou pura e simplesmente a trabalhar numa área diversa. Nada difere dos cursos de Letras. A única diferença são os interesses, o poder da classe e o nome da esmagadora maioria dos professores da Faculdade de Direito, intocáveis e poderosos.
Se a lógica se limitasse a encerrar ou diminuir as vagas dos cursos com profissionais em excesso (como tanto gostam de dar a entender), Direito, Psicologia e outros teriam o mesmo destino das restantes ciências sociais. Volto a afirmar que nem queria que assim fosse. Todos devem ter a oportunidade de se afirmar e estudar na área que entendem. Não podem é criar ilusões de trabalho qualificado. Esse por cá não existe ou pelo menos não é considerado. Claro que se objectivo for somente ganhar dinheiro mais vale não seguir os estudos superiores. Especializem-se em electricidade, canalizações e afins. Aí faltam profissionais e não técnicos superiores.
Isto é apenas um lamento e nada mais. Já estou um pouco farto destas notícias sazonais que apenas agradam a quem nada disto percebe. Há áreas em que não se devia poupar e a educação é uma delas. Esta ideia de fechar cursos que não atingem quotas e financiar por número de alunos é estúpida e inconsequente. Nada contribui para uma melhoria do sistema. Apenas e tão só para o orçamento de estado. Não há qualquer preocupação com o futuro destes jovens, com a qualidade do que lhes é ensinado. E depois admiram-se que muitos abandonem o país.
P.S.- Reparei que o curso de Sociologia no ISCTE oferece módicas 137 vagas. Outro curso com grande saída profissional e grande relevância social. Será que precisamos mesmo de mais discípulos de Maria Lurdes Rodrigues? Há privilégios muito bem mantidos...
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