Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...
Alberto Caeiro
1 comentário:
Apenas queria referir que o post não tinha como objectivo celebrar a tristeza mas sim Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935) e também devido ao post anterior do Jorge:
"E a minha recordação é que conta."
PS. E, claro, como qualquer pessoa normal adoro Cesário Verde.
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