Hoje é dia de regresso às aulas. A data não é significativa, nem representa sequer um dia de regresso ao trabalho como muitos pensam. Pelo menos para mim que sou professor (ou candidato a..., ou indivíduo que..., conforme o governo que no momento vai exercendo funções).
Desde já quero dizer que não pretendo fazer deste espaço um local de discussão dos problemas da educação, pois blogs desses não faltam por aí. Apenas é inevitável, sendo este espaço um local de partilha de pensamentos e ideias, que a profissão que exerço há 11 anos seja alvo de algumas reflexões que certamente irão estar presentes em alguns textos.
O dia 8 de Março foi para mim o primeiro dia em que senti fazer parte de uma classe profissional e tenho desde aí alguma dificuldade em explicar a familiares e amigos o que senti nesse Sábado. Em primeiro lugar, porque quem viu a qualidade das análises políticas e reportagens feitas nesse dia fica com uma sensação de que nada de verdadeiramente importante aconteceu. Em segundo, porque a acreditar no Ministério que tutela a educação, nenhuma razão objectiva havia para tal manifestação. Torna-se, por estas razões, inevitável que o orgulho que senti nesse dia se tenha esfumado e tenha dado azo a um sentimento de indignação pelo esquecimento a que uma classe profissional inteira foi votada. Dirão que estou a ser injusto, que não se tem falado de outra coisa. Se calhar até é verdade, mas os assuntos que verdadeiramente interessaram à comunicação social e à opinião pública pouco contribuem para que os 100 mil que naquele dia abdicaram de um pouco das suas vidas para ali mostrarem a sua indignação sintam que valeu a pena.
A questão da avaliação, que o Ministério e os media empolaram como motivo da manifestação, era apenas um dos motivos do protesto e para muitos o menos importante. Na última semana, por causa de uma histérica e da sua reacção numa sala de aula, senti-me, subitamente, alvo de solidariedade e compaixão. Lamento dizer, mas não é disso que nem eu nem nenhum professor necessita. Aquela situação, por mais especialistas que convidem para a comentar e desvalorizar, é mais frequente do que parece. Ainda ontem comentava que acontece em todas as escolas, apenas numas lida-se melhor com a situação do que noutras. Mas por favor não julguem que é um caso isolado. Nem percam tempo a analisar se a professora em questão agiu bem ou mal. Não importa. Aconteça uma vez ou um milhão, com aquele ou com outro docente, o problema é que acontece e não devia. Mais do que um professor é um ser humano e não creio que nenhum de nós gostasse de viver um momento daqueles.
O que da manifestação deveria ter sido motivo de análise é que uma classe inteira reagiu finalmente às muitas agressões que sofreu nos últimos anos. E em peso. Estou convicto que nunca mais vou ver uma manifestação nesse capítulo tão importante. Dois terços de uma classe profissional na rua. E não estou a falar dos 50 trabalhadores da fábrica têxtil que vai encerrar. Esses é normal que se encontrem à porta da mesma pela situação imediata de desemprego com que se confrontam.
Em 11 anos que exerço a minha profissão já fui vilipendiado com todo o tipo de comentários ignorantes. Que recebo muito, que tenho muitas férias, que trabalho pouco. Claro que não vou perder tempo a explicar porque todas estas acusações são mentirosas, mas queria só relembrar que há muito mais trabalho na minha profissão do que as pessoas vêem. E já chega de levar constantemente com as frustrações dos outros. Devo dizer que na maior parte do tempo sou solidário com elas (as frustrações profissionais principalmente...), mas não percam mais tempo a arranjar paralelos com uma profissão que desconhecem e que nunca (ou mal) exerceram.
Devo dizer, e porque não quero estender mais este texto, que hoje para mim até é um bom dia. Vou reencontrar as turmas com quem tenho trabalhado e confesso que este ano com particular prazer. E isso é o que eu deveria poder sentir todos os dias da minha profissão. A paixão de ensinar algo a quem quer aprender. Foi por isso que me tornei professor. Nada mais deveria importar.
4 comentários:
Bem stor vou dando um salto por aqui de vez em quando.. sobre este assunto que ja está mais que remexido so tenho a dizer (obviamente) que todos os professores têm o meu apoio.. nao digo isto da boca para fora mas sim porque sei o que realmente se passa e todas as dificuldades q os professores passam tanto a nível profissional como a familiar...
particípio ha quase um ano num fórum de discussão da direita nacionalista portuguesa, e realmente vejo muitos ignorantes a falarem dos professores como se fosse uma profissão fácil, dizem q as novas leis sao boas mesmo nunca as tendo lido... ja passei algum tempo a fazer textos sobre o assunto mas o que realmente me assusta é a quantidade de gente, seja ela qual for, que nao sabe nada do assunto mas acaba sempre por dizer q o professor nao tem razao.. enfim nao posso fazer muito sobre isso pois o povo português é mesmo uma merda
abraço, André, Montijo
Serás sempre bem vindo a este blog. Mas tenho uma pergunta a fazer-te: que raio fazes tu num fórum de discussão da direita nacionalista portuguesa?
Abraço
bem logo mal acabou as aulas, eu posso dizer que comecei a ser activista do PNR.. conheci umas pessoas, li uns livros e posso me dizer des de entao como nacionalista.
a partir de Novembro mais ou menos ca no montijo começamos a ver q nao valia a pena estar tanto do lado de alguma instituição, neste caso o PNR que cada vez mais se degradara internamente, porque assim so nos iriam impor limites e restriçoes. começamos a agir autonomamente.. posso dizer que no movimento nacionalista portugues, nos os 6 rapazes do montijo somos os mais activos.. des de faixas na rua a colagens etc etc.. o nosso projecto mais recente foi uma recolha de roupa com cerca de 600 peças que fomos distribuir pelos mais carenciados, e o que sobrara dar a uma igreja da paroquia mais carenciada da zona. decidimos fazer isso em Évora. Depois de o fazermos decidimos também que o projecto da roupa vai ser continuo.. aproveitamos entao para conhecer mais Portugal e a próxima entrega deve ser para o norte de Portugal.
eu pessoalmente sou mais da onda identitaria e social. mas no nosso grupo de 6 rapazes temos todos ideais diferentes dentro da mesma linha. acho que a ideia do que tenho feito nestes ultimos 10 meses foi dita mas como é claro ainda ficou muito por dizer.
Sinceramente nunca te imaginei como um nacionalista. Mesmo pelo teu discurso não sei se verdadeiramente te identifico dessa forma. Estou sem dúvida curioso de saber o que te levou a tal escolha. O que afirmas ter realizado tem valor, mas imagino no contexto de diversas ideologias e, honestamente, espero que não te prendas demasiado a determinadas ideias, pois os extremismos são perigosos. Um abraço
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