................. era uma vez uma floresta que escorria para o mar. as histórias começam sempre assim, no era uma vez. e povoam-se de scones e chás e personagens bonitas, vestidas de veludo e pés bailarina. um menino, muito frágil, habitava esse mundo, tão belo quanto animal e cheio de monstros encostados às paredes. uma vez, perguntei a esse menino se queria mostrar-me essa floresta tão dele, de mão dada. disse-me que não prometia nada e que, aliás, o melhor seria fugir-lhe. fugir dos imensos demónios que esconde debaixo da cama. claro que não percebeu logo que eu também rezo muito pagãmente e que tenho obsessões tremendas por memórias a acontecer. não de ilusões, não de poesias, mas de tudo o que é cru. de olhos. perguntou-me porque raio fui parar àquele altar e respondi-lhe, tão em paz quanto frágil, que por falta de densidade. por falta de densidade, expliquei-lhe, flutuo no meio de labirintos. por entre sofás, num chão de restos de lápis e de corpos. por salas de sons de gaivota e de céu. em ruas gastas de amor e saudade. numa cidade linda, à noite. viu, de repente, um vidro sujo entre ele e eu, que não era ele, porque deixava passar a luz de um abraço em pontinhas de pés. deitada, encolhida, do lado esquerdo do corpo, viajei alto, por estradas a acontecer. de regresso a casa, confessei-lhe um um amor gigante. e o menino adormeceu em paz. esta história pertence às histórias de finais felizes. e deviam ser assim todas as histórias de meninos frágeis. ..........................
2 comentários:
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era uma vez uma floresta
que escorria para o mar.
as histórias começam sempre assim,
no era uma vez.
e povoam-se de scones e chás
e personagens bonitas,
vestidas de veludo e pés bailarina.
um menino, muito frágil, habitava esse mundo,
tão belo quanto animal e cheio de
monstros encostados às paredes.
uma vez, perguntei a esse menino se queria
mostrar-me essa floresta tão dele, de mão dada.
disse-me que não prometia nada e que,
aliás, o melhor seria fugir-lhe.
fugir dos imensos demónios
que esconde debaixo da cama.
claro que não percebeu logo que eu
também rezo muito pagãmente e que
tenho obsessões tremendas por
memórias a acontecer.
não de ilusões, não de poesias,
mas de tudo o que é cru.
de olhos.
perguntou-me porque raio
fui parar àquele altar e
respondi-lhe, tão em paz quanto frágil,
que por falta de densidade.
por falta de densidade, expliquei-lhe,
flutuo no meio de labirintos.
por entre sofás, num chão de
restos de lápis e de corpos.
por salas de sons de gaivota e de céu.
em ruas gastas de amor e saudade.
numa cidade linda, à noite.
viu, de repente, um vidro sujo
entre ele e eu, que não era ele, porque
deixava passar a luz de um abraço
em pontinhas de pés.
deitada, encolhida, do lado esquerdo do corpo,
viajei alto, por estradas a acontecer.
de regresso a casa, confessei-lhe um
um amor gigante.
e o menino adormeceu em paz.
esta história pertence às histórias
de finais felizes.
e deviam ser assim todas as histórias de
meninos frágeis.
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(desculpa)
"..por que raio..."
*
beijinho
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