3 de outubro de 2012

protestem agora ou calem-se para sempre


Já estou farto de protestar. E de escrever sobre protestar. Também já estou farto de me manifestar. Não por não ver resultados, mas essencialmente por perceber que o que me move não é o mesmo que move os outros.

Não sou nenhum anjinho. Não aspiro à beatificação. Mas também não me recordo de sair à rua só para defender o que ‘a mim’ me interessa. Tantas e tantas vezes teria feito melhor em estar calado. Se calhar também esta é uma oportunidade perdida.

Ouvi o Gaspar. Também ouvi o Coelho e o Borges e todos os outros que agora nos governam. Também ouvi o Sócrates e o Pereira e o Silva. O que fiquei eu a saber? Que já estou farto de ser responsável.

Não sei o que de tudo isto sairá. Vejo (e lamento) que há uma determinada classe média a entrar no discurso da falta de alternativas. Na intolerância para com aqueles que se manifestam. Vejo até quem procure justificar o injustificável e critique todo aquele que se desvie da norma – entenda-se comportamento ordeiro que nada perturbe o bem estar alheio.

Ouvi criticar os que assobiam a classe política. Os que chamam gatunos aos Conselheiros de Estado. Como se fosse, de facto, o que importa. E ainda há os que são selectivos. Manifestações? Só se forem apartidárias (como se realmente isso existisse).

Há ainda os que clamam por um regresso ao passado. A estes pergunto se de alguma perturbação sofrem. O que de errado este governo está a fazer é manter o discurso, a postura e a arrogância do PS. Direita? Se alguém via Sócrates como um homem de esquerda...

Se continuamos assim, nada terá solução. Sacrifícios sempre estive disposto a faze-los. Até os percebo, dado o desnorte dos últimos 30 anos. Mas só posso aceitá-los se sentir que eles são úteis. E, perdoem-me, estes não são.

Vem-me à memória a interpretação de Branagh em ‘Henrique V’. Era um adolescente quando vi e esclareço já que não sou, nem nunca fui, nacionalista. Lembro-me de pensar que perante aquele discurso até eu pegaria numa arma.

Este governo não empolga ninguém. Aliás, em 18 meses desbaratou todo o capital que tinha ganho sem qualquer mérito. Presumo até que se cair, tudo ficará muito pior. O caminho deve estar armadilhado.

Já não importa. Se as únicas certezas que nos dão são estas, então prefiro as incertezas. Que se lixe o euro, o salário e a ‘casinha’. Se cair, pelo menos não caio sozinho. E estes não se ficarão a rir.